DIA DO ÍNDIO

Todo dia era dia de índio. Afinal de contas eles predominavam nesta terra. Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral ancorou no local onde hoje estão os Municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro, encontrou os nativos da região, que pertenciam à nação Tupinikim e falavam o tupi antigo, uma língua da família tupi-guarani, à qual eles próprios denominavam ”abá-nheenga (língua de gente). Essa língua, falada por todo o gentio que habitava o litoral brasileiro, de Cananéia às Costas do Maranhão, foi utilizada pelos jesuítas como um fator de união nas novas terras encontradas que passaram a pertencer à Coroa Portuguesa, passando a ser inclusive, utilizada pelos portugueses e seus descendentes que aqui habitavam. Vale observar, que não foram os índios da nação Pataxó que hoje habitam aquela região, os primeiros nativos encontrados por Cabral e sua gente – esses viviam um pouco mais para o interior, nas vizinhanças do território dos temíveis Aymoré e tal como eles, falavam línguas do macro grupo lingüístico jê.

O Tupi e o guarani, apesar de serem diferentes entre si, foram tomadas como uma só língua, o que não corresponde à realidade. Essas línguas pertencem a uma família, juntamente com outras línguas. O tupi antigo foi falado no Brasil como língua principal até o na de 1759, quando o Marquês de Pombal, uma espécie de Ministro da Educação de Portugal, sentindo que o Brasil se distanciava cada dia mais da Metrópole, criou o Diretório dos índios, espécie de lei que passava a proibir o uso do tupi antigo em todo o território nacional, obrigando os brasileiros a aprenderem o português (que era praticamente desusado no Brasil). Mesmo assim, depois dessa proibição, ficaram as expressões corriqueiras em tupi, as denominações de animais e plantas, além de uma infinidade de topônimos, a maioria deles postos pelos próprios indígenas, outros pelos novos brasileiros descendentes dos europeus e outros, mais modernos, colocados por saudosistas e pessoas com sentimentos nativistas.

Como língua dos brasileiros, falada de norte a sul, o tupi ficou conhecido como língua brasílica. Mais tarde foi surgindo a partir do Estado do Maranhão o nhe’engatu, uma língua geral que foi se espalhando para o oeste até a Amazônia e que hoje muitos índios a utilizam como “língua franca”.

Os índios foram aos poucos sendo dizimados pelos bandeirantes e pelos grileiros ou tendo que negar a sua origem para permanecerem vivos, passando a ser caboclos e indo trabalhar como semi-escravos em fazendas do interior. Aqueles que se mantiveram unidos com seus grupos, com o passar do tempo, por questões de segurança e para não serem discriminados, foram perdendo as suas línguas, suas culturas e conseqüentemente, sua auto-estima.

Hoje em dia tem aparecido índios ressurgentes, aqueles que resolveram sair da condição de apenas caboclos, sentindo-se já livres das preseguições e tem se reunido com seus parentes dispersos pelo interior, voltando a se aldear, e procurando recuperar sua auto-estima, suas religiões e suas antigas culturas. Hoje eles estão lutando para recuperar tudo o que foi perdido.