A BRASILEIRA NO CALÇADÃO

A BRASILEIRA NO CALÇADÃO

Oh banco amigo, te fizerem ao sol em qualquer hora do dia, mas és descanso de qualquer maneira.

Afagar uma revista, um livro ou um jornal, e lê-lo. Mas na realidade tu banco és como o sofá do médico, só que não para pacientes e sim para o observador da história quotidiana da Cidade, estás centrado bem em cima do coração de Maceió.

Quero, ao cruzar as pernas e respirar aliviado ao sol das 10 horas, ver-te linda Maceió, seu calçadão é seu short, saída de praia. Vestida para o Laser mas trabalhando. Os jovens passam fardados ainda e rindo, em grupos, em duplas, livros, cadernos e mochilas.

Mocinha pernas justas, cabelos berrantes, rindo sem um dos dentes, faceira, fogosa, escondendo no tipo “tou nem aí”, as vergonhas infantis, mas verdadeiras de ser e ter no regime disfarçado de castas, rumo ao ponto de ônibus para a periferia mais periférica, esconder aos outros a casinha sem numeração na porta, pendurada no barranco, aos sustos a cada temporal. Sorrindo satisfeita por ter podido pintar as unhas com aquele esmalte, com o tênis surrado e limpo e um Celular cheio de bossa, bichinhos numa correntinha. Tudo mui feminino, mui humanamente mascarado.

Atrás do sorriso sem um dos dentes, está a preocupação de chegar ao lar, a hora temida de enfrentar o padastro embriagado e tarado, o prato com arroz branco e metade de um ovo com suco de pacotinho, a cama por traz do lençol/cortina equilibrada sobre dois pés originais e quatro tijolos, o chão de barro batido, cimento só na sala, vai curtir seu som baiano num aparelho portátil semi destruído pelas bordoadas do padastro que detestava aquele presente do seu Pai.

Aos colegas ao seu lado mentia descaradamente, tinha som, esperava outro celular mais bacana do seu Pai, iam trocar de TV por uma de plasma, só não dizia claramente onde morava, como morava. E que todos os meses, ao fim de cada dia 18 tinha de deslocar para o colégio do estado a pé porque os créditos da carteira de estudante que seu pai pagava só iam até aí. Como morava muito distante de tudo, não podia estar indo a praia e nem a qualquer festa. Chegar a casa significava trabalho dobrado ao ajudar a Mãe nos afazeres de casa com os outros três irmãos inda pequenos filhos da atual união, não havia fim de semana e nem feriado. Sentia quando as colegas falavam do estouro que foi tal festa, a pele queimada da praia da outra, os namoros, que delícia!!! Porque só com elas, porque não eu?

Calçadão amigo meu, queimei meus miolos ao ver e sentir só em olhar, o drama daquela garota, sabendo que milhões delas povoam este Brasil.

Ainda olho o brilho do piso vejo os calçados a passarem, por traz das lentes dos óculos, rola lágrimas por aquela brasileira.