A FRAGILIDADE HUMANA E OS CAPRICHOS DA NATUREZA

A FRAGILIDADE HUMANA E OS CAPRICHOS DA NATUREZA

Água é vida, diz a sabedoria popular. Chuva é água que cai da atmosfera. Sinónimo do ciclo de vida e da mãe natureza que se renova a cada instante e na cadência dos séculos.

A presença ou a ausência das chuvas nas respectivas épocas costuma constituir o barómetro da avaliação do ano bom ou do ano mau ou ainda do progresso e do fracasso do trabalho humano em relação aos resultados obtidos na agricultura. Logo, a chuva é um bem necessário que alimenta e dá vida à vida.

Como todas as coisas, o fenómeno não encerra apenas o lado bom da vida e no entanto também traz consigo várias consequências para o ser humano, quando este cai no desleixo, e mesmo prevenido por sinais emitidos pelo fenómeno, antes da sua ocorrência.

Por exemplo, uma descarga eléctrica pode ocasionar uma tragédia à uma família inteira ou a um grupo de pessoas reunidas num determinado local, no entanto, assiste-se a destruição de pára-raios nas zonas urbanas e peri-urbanas e a um espírito de deixa andar de se não prestar assistência a esses mecanismos que teriam protegido o ser humano de tragédias de todo tamanho.

Na realidade o perigo está em toda a parte. Ele paira sobre o homem acampado debaixo de árvores de alturas insondáveis, de quem constrói no meio delas, nas encostas, próximo dos rios, no cimo da montanha, além do risco de algumas zonas declaradas com a possibilidade de eclosão de terramotos.

De simples noção, o perigo pode converter-se em desgraças que arrasam famílias e comunidades inteiras e deixam muitas pessoas traumatizadas para o resto da vida. Da possibilidade à realidade a fronteira é bastante estreita, e depois surge o inevitável de que os relatos recentes fizeram eco em muitos lugares do nosso planeta com maior ou menor dimensão, dependentemente da região ou país.

Cá, pelas terras da Serra da Chela são as chuvas que fazem das suas. Ouviram-se gritos de socorro na Humpata, em Chicomba, no Kuvango, no Chipindo e agora no Lubango e na comuna de Kapunda Kavilongo, na Chibia. Nesta última localidade, o cenário é bastante desastroso com a sede comunal isolada devido a pontes partidas, acessos inundados e completamente intransitáveis.

No meio de tudo isto está o ser o humano como alvo principal. O mesmo ser frágil e vítima por um lado e insensato e culpado por outro.

De um lado está o alvo vulnerável incapaz, por parcos recursos, de decidir, de avaliar e agir e por isso, pouco preocupado com o perigo à sua volta, debaixo do tecto de uma cabana, na encosta ou no cimo da montanha, à beira do rio, debaixo de uma árvore, por cima de uma pequena embarcação à vela ao meio do mar enfim, um alvo inocente e vulnerável aos caprichos da mãe natureza.

Do outro lado, o ser que decide, age e pode, no entanto, com a fragilidade na alma e no subconsciente. Um ser alheio à emissão de toneladas de gases tóxicos para atmosfera. Despreocupado com a consistência da moradia, da escola, do posto médico e da qualidade do asfalto quando a si compete construir ou decidir para terceiros. Na hora de reconstruir as estradas esquece-se de anexar as bermas e os escoamentos. Prefere tapar os esgotos na reparação de ruas, nas cidades, deixando a empreitada para o concurso posterior na pretensão de dar à empreiteira, o ciclo de entrada de capitais com as mesmas obras.

Um alvo que esbanja e transfere capitais para as contas do resto do mundo. É sim, um ser que se particulariza no egoísmo e se autodestrói na sua existência colectiva.

Então, na sua passagem, as chuvas, as tempestades, os terramotos as cheias e outras calamidades caprichosas da terra provam a qualidade da obra humana sondando o tipo de carácter, de alma e do espírito que este humano carrega no seu íntimo de pessoa criadora.

A maravilhosa natureza que oferece todos os meios e as suas riquezas, entra em turbulência, emite alarmes e o Homem alheio a tudo isto, hiberna a espera da sinalética tardia para decidir o seu destino e escolher o estilo de vida que pretende granjear com sabedoria e os meios à sua disposição.

Salueira Costa/ 23.02.2010