Sou sim, e daí?. . .

SOU, SIM. . . E DAÍ ?

Muita gente é. A maioria, entretanto, prefere esconder. Uns por falta de oportunidade de se declarar, outros porque têm medo de serem gozados pelos amigos. Outros, ainda, porque temem a reação das pessoas que, ao tomarem conhecimento dessa inusitada predileção, tentarão convencê-los a mudar de preferência. E eles não têm a menor intenção de fazê-lo. São, sim, e, interiormente, lutarão até o fim pelo sagrado direito de ser. . .

Sou, sim, torcedor do América! Não fanático, qualidade, aliás, que não existe na torcida alviverde, mas equilibrado, ponderado, paciente, saudoso e. . . conformado! Já analisei a situação sob diversos aspectos e cheguei à conclusão de que torcer para o América, além de ser cômodo e altamente isentivo, é sublime! Não é qualquer pessoa que serve pra torcedor do América não! Tem que possuir, entre outras, as qualidades virtuosas já mencionadas, de equilíbrio, ponderação, paciência, saudosismo e conformismo. É ou não é sublimado - não no sentido químico ou físico da palavra, mas na acepção psicanalítica - possuir estas qualidades, em pleno século XXI, quando a humanidade já as perdeu e nem ao menos se dá ao trabalho de procurá-las? “Esperança” é um atributo totalmente dispensável aos que se dispõem a tal sublimidade. Este substantivo, no nosso dicionário - o dicionário dos torcedores do América – foi substituído por outro bem mais altruísta: utopia!

O América só dá alegria para os seus torcedores, mesmo os mais enrustidos. Isto porque “perder” é a coisa mais natural e provável do mundo, em qualquer disputa. Napoleão perdeu várias batalhas. Lula perdeu muitas eleições. As mulheres cometem loucuras para perder peso e - incrível, mas é verdade! - a maioria dos políticos brasileiros perdeu a dignidade! E o América, só o América, não pode “perder”? Uma coisa, entretanto, é certa: para nós, torcedores do América, o time nunca perde “de” algum adversário, mas sempre “para” algum adversário. “De” é só quando ganha “de” alguém. . .

E quando ganha – e já aconteceu em várias ocasiões, segundo alguns companheiros da torcida alviverde, de memória invejável - é uma alegria muito grande pra nós. . . Às vezes a gente chega até a pensar em voltar o substantivo “esperança” para o dicionário, mas, ponderados e pacientes que somos, não precipitamos. E, logo, logo, nos vangloriamos de, por pouco, não termos praticado um disparate !

Há, entre os “não americanos” - casta cada dia mais numerosa, felizmente - , um ditado que diz que a torcida americana cabe numa Kombi - deviam ser mais complacentes, como nós, e dizer, pelo menos, numa Sprinter! - e que ainda sobra lugar. . . Conversa fiada, colegas de opção futebolística, conversa fiada. . . a torcida do América é a maior de Minas! Duvida? Então pergunte a um cruzeirense qual é a maior torcida de Minas. Ele, certamente, do alto de seu fanatismo imponderável, depois de forçá-lo a praticar um dos mais dignificantes ensinamentos de Cristo - o de fornecer a outra face - dirá que é a da Raposa. Pois bem, faça a mesma pergunta a um atleticano e, se tiver a graça de continuar podendo desfrutar do sentido da audição, ouvirá que é a do Galo, indiscutivelmente!. . .

Portanto, nós, equilibrados, ponderados, pacientes, saudosistas e conformados americanos, propomos a seguinte questão: se jogam Cruzeiro x América, toda a torcida atleticana, e mais os minguados americanos, logicamente, torcemos pra quem? Pro Coelhão, naturalmente! E numa partida entre Atlético x América, será que os cruzeirenses vão torcer para o Atlético?. . . Evidente que não! Logo, toda a torcida cruzeirense, mais os “kombianos” ou “Sprinterianos”, se me permitem escolher a condução, vamos vibrar com a vitória do Coelho!. . .

Conclusão mais do que lógica: a torcida americana é a maior de Minas!

Daí eu apelo para uma das qualidades do torcedor americano - o saudosismo - e vislumbro a figura do saudoso Professor Majela (Majela com “J”, Seu burro!) com todo ecletismo a que tinha direito, que, quando a gente conseguia provar um teorema usando recursos diferentes daqueles usados pelo autor do livro de geometria, descia, por um momento, do seu merecido trono de mestre e exclamava, num misto de admiração e desdém:

- Bonita tese, Seu merda!. . .

Alírio Silva
Enviado por Alírio Silva em 01/03/2010
Código do texto: T2114529