29 PESQUISAS DA "CULTURA INÚTIL"

Ora, direis, “cultura inútil”!... Pois eu acho que toda informação nada tem de inútil. Até que o seu teor poderá ser escalonado, avaliado, mas inútil mesmo é coisa que não existe nem na cultura, nem na agricultura. “Em se plantando tudo dá”, como vaticinou Pero Vaz de Caminha, naquela “Carta de Achamento do Brasil”, lá no distante ano de 1500.

Falo todo este despautério porque vi alhures – nem sei mais onde, naturalmente na Internet – que numa pesquisa recente os europeus escolheram a música mais adequada para o seu próprio funeral. E olhem só o resultado... À pergunta “Qual a música para o seu funeral?”, a velha Europa não pestanejou e atestou e juramentou o que achava sobre a matéria em foco. Vejam aí... Em primeiro lugar, deu “My Way”, de Paul Anka, na voz de Frank Sinatra. Segundamente, vem “Let it be”, dos inesquecíveis The Beatles, e, em terceiro, uma clássica, “Réquiem”, de Handel.

Ora, direis, “besteira muita”, como fala sempre um cronista, aqui, da terrinha!... E eu não acho besteira alguma, nem em você pensar até pelo avesso e nem em botar gás em querer informar-se do que bem quiser.

Ainda segundo o resultado de outra pesquisa, realizada não sei quando, em que contexto e nem feita por quem, chegou-se à conclusão, no final da enquete, que os nomes próprios portugueses, no Brasil, apresentam a seguinte ordem de preferência: 1º lugar, José; 2º, Antônio; 3º, João; 4º. Luís; 5º, Carlos; 6º, Paulo, e, finalmente, em 7º lugar, Francisco. Mas já acuei e desbravei, num artigo, uma porção de nomes estapafúrdios que, no caso da tal pesquisa, não entraram na história. E, como este um, por lugarzinho de milagre, também figurou na lista, em terceiro, até que agora me quedo mais ancho.

Isto aí, que vimos, não tem nada de científico; ninguém pode provar que seja uma verdade medida, pesada e contada. Até a ambiência social pode modificar o placar, ou não pode? E por que não incluíram, também, os nobres nomes femininos? Ana, Célia, Ismênia, Lúcia, Maria, Márcia, Marta... Nomes tão bonitos!... O detalhe é que, pessoalmente, aprecio muito os nomes próprios femininos, em paroxítonos, terminados em ditongos. Diacho, mais que marcação com as digníssimas representantes do belo sexo! Eis aí pesquisa mais fajuta.

Agora, vejam aqui... Desta última tirada de “besteira muita”, sinceramente gostei, pois me fascinam, de fato, os termos adocicados e poéticos, assim. No abalizado parecer da Academia Brasileira de Letras, a curiosidade em pessoa quis saber quais as mais belas palavras da Língua Portuguesa. E não deu outra, a saber: em 1º lugar, como nem poderia deixar de ser, deu AMOR; em 2ª posição, veio ALEGRIA; em 3º lugar, ALVORADA; no 4º, CARÍCIA (ah, esta é demais); em 5ª colocação, desfilou ESPERANÇA; MAR, no 6º lugar; em 7º, MADRUGADA; em 8º, SOLIDÃO; na 9ª posição, figurou SAUDADE e, no 10º lugar, fechando o palavrório bonito, TERNURA foi o que pisou na passarela.

Com tais palavras tão belas, à mão, e ainda mais sob a tutela e o bom gosto dos nossos velhuscos e venerandos intelectuais da ABL, o que vos resta fazer, oh senhores poetas e estetas do mundo inteiro, senão empunhar a vossa arma da caneta e, a partir desse rol de preciosidades semânticas e sonoras, desembuchar os mais expressivos e apaixonados poemas – de preferência poemas de amor? Pois, a mim, me fosse dada a vossa estrondosa, espetacular e bombástica inspiração, com certeza, agora, já estaria a garatujar num papel uma ruma, assim, grande, de poesias amorosas. Fazei o que estais a fazer, oh excelsos bardos e poetisas de vulcânica verve deste nosso tremendo país de tantos tropeços, acertos e contrastes tropicais!

Fort., 02/03/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 02/03/2010
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