A IRONIA DO SER (em pseudo-aforismos)

A certeza... Quem é o dono de uma inteligência inigualável, que interpreta como nada mais o universo, racional por essência, lugar pelo qual falam todas as coisas? Se o leitor respondeu o homem acertou. Sem dúvida, tudo o que o homem pensa de si é verdadeiro. O ser humano não conhece, coloca algo novo na realidade. Por isso, o conhecimento incompleto não procede, pois é o ainda não pensado e o que não foi pensado é o não realizado. É o homem quem realiza a realidade. A natureza é o espelho do homem. Ela não diz quem somos, uma vez que só existe porque dizemos quem e o que ela é. O grande ser que é o homem habita o mundo para criar reflexos de si, pequenas cópias de humanidade.

Um pouco de ceticismo... Heráclito nos falou de certo erotismo do ser. Este não mostra tudo o que poderia revelar. Sempre que desvela, continua a velar o resto de si. Situado num ponto do real, o homem é incapaz de ter a visão do absoluto. A verdade se dá de forma caprichosa, e só se pode torcer por sua boa vontade. Descartes cogitou um gênio maligno, que nos enganaria, fazendo-nos acreditar em grandes engodos – embora, depois, o tenha descartado. E Hume (é só digitar no buscador preferido que você fica sabendo rapidinho quem foi ele)? Soube como ninguém colocar a crença na razão na berlinda... O homem se viu obrigado a repensar sua própria essência para ver se encontraria alguma.

Um palco para a comédia da história... Talvez seja muito mais engraçado que não apenas um, mas bem mais que seis bilhões de indivíduos atuem num imenso palco, pensando que são os protagonistas do universo. Quem sabe o ser não seja dono de um grande senso de humor? Isso se ele existir, diriam os céticos. Se não, a humanidade ainda carece de uma história universal mais engraçada e de um bom comediógrafo disposto a escrevê-la. Hegel e seus discípulos eram muito sérios para tal feito… O que há nos assim chamados destinos seria tão somente constantes tentativas frustradas, muita persistência, pouca caminhada intermitente em função dos incontáveis tropeços, alguma crença nos fins, várias buscas desorientadas. Pouco mais de um século depois de Nietzsche, que não é bem aquele do livro “Quando Nietzsche chorou”, e não encontramos nosso lugar no mundo e a nossa alegria com a Terra é geralmente acompanhada por fragorosos conflitos com a natureza.

Os novos dramaturgos do ateísmo... Os ateus pensam que são responsáveis pelo novo prólogo da história universal - os novos crentes do século XXI. Parece mesmo que o ser tem muito senso de humor.

O pseudo-realista... Os realistas acreditam que são os maiores críticos da dramaturgia do todo. Eles dizem: “Não se encantem com tanta beleza no mundo, ele é, de fato, só feiúra. Não lutem pela vida, pois tudo está fadado à dissolução.” São os literatos da ausência do nexo. E daí que as coisas sejam como esses homens acreditam ser? A maioria de nós quer mesmo um final feliz para o seu “era uma vez”... E muitos gostam da grande ficção.

Os gênios da caixinha... Ficção cara, vendida por pouco preço e lucro quase sempre garantido. Os pais dos eruditos da caixinha; esses sim produzem realidade de muito mau gosto.

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Ricardo Toledo
Enviado por Ricardo Toledo em 04/03/2010
Código do texto: T2119903
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