Como Dizer Adeus

Sentou na escrivaninha, abriu a gaveta e tirou o papel amarelado pelo tempo junto à caneta tinteira do avô. Analisava cuidadosamente cada ação ao mesmo que se indagava porque, diabos, fazia aquilo. Não havia sentido, lógica ou razão para remexer em segredos escondidos de si dentro da alma, para abrir tão impiedosamente o próprio coração, mas agora estava decidido e seria feito.

Pegou e soltou a caneta inúmeras vezes antes de decidir que tudo aquilo era uma imensa bobagem e que apenas se fazia de idiota, afinal, não teria nada a escrever além de “oi” e outras palavras borradas a lágrimas. Nem sabia se a reconheceria depois de tantos anos ou se, na pior das hipóteses, a carta chegaria ao longínquo continente. “Ainda assim merecemos esse final”, repetiu baixo enquanto acendia o último cigarro e apoiava a testa nas mãos jogando o isqueiro para longe.

Deixou as lágrimas correrem junto às palavras, rasgou cada pedaço dentro de si em letras e fonemas. Contou verdades e mentiras, todas recheadas de estrelas e borboletas, como ambos gostam. Descreveu o quarto onde passaram aquele verão como se ele jamais o tivesse visto, e provavelmente nunca o tinha daquela forma. Terminou algumas horas depois e, com os olhos inchados como estavam, a enviou pelo correio, se esperasse não o faria.

Passados dois meses, a campainha tocou e lá ele se encontrava, com uma pequena mala e o envelope amassado nas mãos. Apenas foi necessária uma frase:

“Seu único engano foi achar que te deixei.”

Malaguti
Enviado por Malaguti em 05/03/2010
Código do texto: T2121421
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