Seu Mathias e Panela Zen (show)

02:37 da manhã do dia 20 de julho de 2009, sentado numa das poltronas da Câmara Municipal de Belford Roxo, exausto, mas muito feliz, pensava na ousadia de um empreendimento, ao qual me integrara, por convite, para ajudar na produção de um dos mais surpreendentes shows musicais elaborados na Baixada Fluminense. Um trabalho que começara no rebuscamento de boas músicas, de bons músicos, de bons arranjos e de boas letras não poderia dissociar-se de uma estrada pautada por inserções de um fabuloso e sensível artista: Seu Mathias, que teve o seu parto permitido por Deus lá no bairro do Estácio, vindo para Belford Roxo em 1961, se radicando no bairro de Areia Branca, onde se inseriu nos Movimentos Culturais da época e em 1994 entra para o quadro de Animadores Culturais do Rio de Janeiro desenvolvendo excelentes projetos artístico-culturais nos CIEP's e nas comunidades mais carentes, como os projetos: Negrotú Contra a Fome, Ensaios de Rua e o Espaço Cultural NoGueto que proporcionou experiências musicais fantásticas agregando à sua proposta jovens talentosos da Banda Karamujos, que juntos fizeram barba, cabelo e bigode, dando um brilho de grandeza e qualidade ao que vimos nessa noite, nessa casa legislativa.

Equipe de produção fervilhando bem antes do show e Seu Mathias em sua simplicidade sonífera permeava com palavras compassadas a jornalistas e admiradores o que seria a estética do Projeto Musical: Seu Mathias e Panela Zen. Eu estava ansioso, pois chegara um pouco depois nesta produção e quando começamos as gravações viajei nos detalhes das letras e dos acordes que emanavam daquele palco ousadamente articulado entre mesas, cadeiras e o púlpito da Câmara, numa visão surreal, que poderia ser, até mesmo, um quadro de Dali.

Em meus pensamentos fui a um passado, lá pelos anos 80, quando Seu Mathias, junto com Reinaldo Cabeça de Nego, cria a Banda Flor da Pele, iniciando e exercitando a sua criatividade musical o que o levou a ser convidado por Dida Nascimento a ingressar na Banda Desaguada composta por Dida, Marrone, Reinaldo e Lauro Farias (hoje no Rappa), que logo, logo, se transforma na Banda KMD 5 e sendo influenciado por Bob Marley, começa a trabalhar belíssimas composições de reggae. O trabalho não acontece e Seu Mathias passa um bom tempo hibernando, pensando coisas novas, e então retorna com o Grupo Requinte do Samba e grava um LP, que lhe dá visibilidade levando-o a gravar trabalhos com Leci Brandão. Nos anos 90 forma uma das melhores bandas de reggae da Baixada, a Banda Negrotú que não decola, logos após cria a Banda 5 Kilates, um reggae pop eletrônico e grava um CD pela Play Art e dá uma circulada no eixo Rio/São Paulo, mas não acontece. Retorna ao Rio e forma a Banda Maria Preta gravando um novo CD pela Sum Record. Sai da banda e é convidado a integrar a Banda Sangue Rasta que mais uma vez não avança. Seu Mathias, bem mais maduro, rebusca fazer algo diferente e começa a pesquisar novos sons, experimentos e misturas, agrega novos valores conceituais e parte para um novo disco com influências de ritmos diversos, dando ênfase aos latinos, americano e nacional, como o blue, ska, música flamenca, xaxado, baião, calango e a bossa nova e monta o projeto áudio-visual Seu Mathias e Panela Zen, que nesta noite de hoje, varando madrugada adentro, tive o privilégio de contemplar e participar de tão grandioso e inusitado show musical, onde não se ouviu as mesmices de sempre, onde o contemporâneo musical da Baixada Fluminense aflorou para àqueles que apreciam bons trabalhos musicais deixando para a posteridade uma coletânea maravilhosa registradas por imagens e sons ainda inaudíveis na cidade do Rio de Janeiro.

Por: Vicente Freire

Belford Roxo, RJ – 06 de março de 2010.