O depois é coisa do Diabo

No início eles conseguiam até ser engraçados. Chegaram a vender o viaduto do Chá. Arrendaram o cristo redentor. E chegaram ao máximo da criatividade quando lotearam a lua e negociaram uma porção de terrenos com alguns inocentes fazendeiros do interior de São Paulo e Minas Gerais.

Eles não usavam armas de fogo, era só na lábia. O famoso 171. Roubavam as pessoas através de uma boa conversa e nada mais. Nunca usavam de violência. Muito pelo contrário eram pessoas refinadas e cultas. Ser malandro era algo até certo ponto charmoso e folclórico.

Depois começaram a aliviar as pessoas, aproveitando-se dos trens e ônibus lotados para roubarem as carteiras dos incautos otários que moscavam dentro dos coletivos e das composições.

Depois com o passar do tempo foram perdendo o charme, a graça e o romantismo. Começaram a agredir as pessoas para se apossarem de seus pertences. Vieram os arrastões, que mais se pareciam com os filmes de terror, onde os mortos vivos atacavam impiedosamente os simples e indefesos mortais, que assistiam impotentes as suas almas serem arrebatadas inescrupulosamente para as profundezas fétidas do inferno.

Depois começaram a usar armas de fogo para intimidar as pessoas na hora do assalto.

Depois, não contentes apenas em assaltar e aterrorizar as pessoas, começaram a matar sem nenhuma explicação ou motivo.

Depois seqüestraram uma criança e devolveram-na morta aos seus pais.

Depois roubaram um carro e arrastaram uma criança até a morte por vários quilômetros.

Depois começaram a matar policiais, numa demonstração incontestável de que: - "Quem manda somos nós" -.

Depois invadiram as nossas casas e violentaram nossas famílias, tirando-nos de vez o direito de termos privacidade dentro daquilo que é nosso. Dentro daquilo que lutamos arduamente para conseguir.

E depois o que farão? Por mais quanto tempo teremos que viver sobre o temor de um depois com prenúncios de sangue. Por mais quanto tempo ainda teremos que viver sem a menor esperança de vencermos essa luta tão desigual, onde o crime organizado é mais organizado que a própria instituição que deveria nos proteger? Até quando teremos que viver com esse medo de lutar para conseguirmos as coisas, pois quando conseguimos, nos perseguem e nos barbarizam para nos tomarem o que conquistamos com tanto sacrifício.

Já não é chegada a hora de separar o joio do trigo? Eu acho que sim!

Não sou a favor da pena de morte. Sou a favor da prisão perpétua.

Quando o sujeito souber que vai apodrecer dentro de uma masmorra até a morte, com certeza ele vai pensar mil vezes antes de fazer uma maldade contra nós.

Os mansos e os justos herdarão a terra. Eu faço parte desse grupo e venho através desta reclamar a minha parte. E tem mais: eu quero agora! Não quero deixar para depois não! O depois é coisa do diabo!