...UM SEGUNDO POR VEZ, PARA SABOREAR O TEMPO...

Ela não foi capaz de assumir o verdadeiro motivo da alegria ainda estar aqui. Semana após semana, na quase totalidade dos dias fragmentados que se ofereceram verdadeiramente diante de nossos pés, aproveitamos a lentidão ilusória dos segundos. O sabor dos bons momentos parece ser duradouro em minha boca. Eu me sinto disposto a pagar o preço para retirar o peso de todas as coisas de que não podemos nos desvencilhar. E o ar puro já não é segredo. E a vida humilde já não é crime. Os sorrisos, antes sarcásticos, deram lugar a canções mais nobres, onde as diferenças fazem muito mais sentido que as opiniões coletivas de quem nunca diz nada. A personalidade se vestia de escândalo antigamente. A moça admitiu que já rezou enquanto trepava com seu namorado e não se sentiu mal por isso, e eu já havia admitido que antigamente só ia as missas ao domingo para estar mais perto da deusa, pois aquele outro não me interessava. O meu castigo foi conhecê-la. Eu já mostrei o que estava escondido em tempos mortos, e reconheci rapidamente a dor pelas palavras que não conquistam, mas hoje, quando vejo seus lábios se abrirem em luz serena e silenciosa na minha direção, percebo o quanto meus erros são valiosos. E o medo já não salva mais...