Um dia muito esquisito
 

De repente não sinto nenhuma vontade de escrever. Estou por aqui há um longo tempo, começando e não terminando nada. Comecei uma carta para Fabiana, mas acho que ainda não é hora: ela precisa terminar esse ciclo e começar outro, mas ainda não absorvi bem a idéia de que ela vai embora, em agosto, para a Duke University ou para Cornell University, fazer seu doutorado. Para mim ela ainda é a menininha linda que eu seguia com uma câmara enquanto ela fazia pose de artista e se apresentava dizendo: Eu sou Fabiana Mell, mas pode me chamar de Fá, para ficar mais curtinho. E brigava com o tio Lucas, exigindo ser filmada. No entanto ela é uma mulher de vinte e três anos que não quer mais ser modelo, nem bailarina, nem atriz, mas é uma Bióloga, terminando o mestrado e que está sendo requisitada por três das quatro universidades norte-americanas para a qual se candidatou: falta uma e essa é Harvard para a qual ela diz não ter chance. Mas, eu tenho lá minhas dúvidas...

Comecei também a escrever sobre o dia estranho que foi ontem e que eu também ainda não assimilei e que não deixa de ter sido um mistério. Mas acho que ainda não estou pronta para falar sobre ele, um dia que começou quase normal: Fabiana saindo cedo para Campinas, sendo levada em meu carro, eu, com o carro de minha irmã emprestado indo para a aula de inglês e planejando entre outras coisas pagar nossos funcionários logo após, o que eu não pude fazer na sexta feira, quando fui a Belo Horizonte velar mais um de meus mortos. Pois não é que já saí de casa aos trancos e barrancos, o alarme indecente do carro disparando e eu não conseguindo interrompê-lo, apanhando da direção pesado (a gente se acostuma às coisas boas logo) e o pior, não conseguindo levar a aula adiante porque um sono avassalador tomou conta de mim e minha boca secou de tal forma que eu não conseguia engolir e comecei a falar enrolado e tenho que dar graças a Deus por minha amiga/teacher não ter permitido que eu saísse dali dirigindo e me levou para um pronto – socorro onde eu passei a tarde dormindo e tomando soro? Um verdadeiro mistério que eu e o médico lindinho certamente vamos descobrir e aí talvez eu possa contar direitinho o que aconteceu, se não for para quem me lê há de ser para mim mesma.

      E não consegui também escrever sobre o Projeto Livro para Voar, uma acontecência no fim de semana, que teve o apoio de nosso Departamento, mas essa acontecência foi porque eu esperava mais dela e fiquei triste porque achei que esteve aquém de seus leitores, por culpa de seus próprios leitores e outros mais. No entanto é um bom Projeto.
 
Pois é isso que está acontecendo hoje, eu querendo falar tudo de uma coisa e falando quase nada de muitas coisas, preferindo ir dormir, continuar meu sono sem sonhos, esperando que o hoje que será amanhã seja bem mais criativo que o ontem que é hoje.