...CENSURAS INÚTEIS A SI MESMO...

As crianças tem mais facilidade para observar o mundo ao redor. Hoje foi doce ver como elas se encantavam com a variedade de cores das frutas nos mercados. Tocavam a textura das mesmas com cuidado suficiente para evitar o espinho invisível que havia ali. As crianças se divertem com a falta de responsabilidade, enchem o carrinho de iogurte e doces e olham desoladamente quando os pais colocam tudo de volta nas prateleiras, para no minuto seguinte sairem em disparada pelos corredores que reservavam grandes aventuras pelo universo de valores e opções que passava despercebido aos olhos atentos. Outro corredor e a mãe anda com a mão na orelha da menina que derruba elegantemente diversos enlatados pelo caminho percorrido pelo pés apressados de quem não tem pressa e está sendo arrastado. Enquanto nós adultos nos encontramos e trocamos palavras vazias, as crianças trombam e riem do próprio desastre que são, e todas as broncas e puxões e tapas e gritos e conversas ao pé do ouvido não parecem interromper a vida dentro delas. Após a passagem pelo caixa, penso que damos espaço demais para a nossa censura interna, que proíbe e inibe os nossos próprios desejos, e penso também que mesmo que tenhamos vivido intensamente nossa infância, não conseguimos extrair dali a leveza suficiente para não rechearmos nosso cotidiano de problemas inúteis. O sorriso ainda está aqui ao menos...