No clube do bolinha, mulher nao entra!!!

Quando dois amigos “machos” se reúnem em confraternização (amparados por churrasco e “gelada”), entregam-se um ao outro como se não houvesse ninguém mais ao redor. Dizem que a mulher sente ciúmes de suas amizades... No entanto, aposto minhas fichas que este não seria o sentimento apropriado...

Não é o ciúme quem repudia flatos e eructos poucos atrativos,

A falta de espaço,

As piadas sem graça,

A cerveja no chão,

Os pés encima da mesa,

A aparente falta de amor quando um amigo está presente...

Um amigo visitando um amigo é motivo de festa, churrasco, feijoada, peixada... O dia é muito curto para eles, afinal, há quanto tempo não se vêem?

Se um amigo está com outro amigo a casa pega fogo, o filho come pregos, o gato vai para o forno, mas eles não interrompem o dia e não se abalam, afinal, há quanto tempo não se vêem?

O casal acorda cedo.

O marido lê o jornal para estar informado.

A mulher cai na faxina para causar boa impressão.

A visita chega perto da hora do almoço (a esposa fica irritada porque não ajudaram em nada). A mochila está cheia de roupa (a grande dúvida: quanto tempo ficarão?) O automóvel carregado de crianças e como agregado, uma tia gorda que não consegue sair do veículo sem ajuda de homens valentes.

O marido detém a leitura (contentíssimo!). Descansado, ele é o primeiro a levantar-se para receber as visitas (hóspedes?) de braços abertos.

A esposa larga os chuchus e as batatas, confiante de que tudo sairá bem.

Em meio à gritaria da criançada começa o almoço. Depois da manhã turbulenta, os comentários amáveis:

“-Você esqueceu do sal nas batatas!”.

“- Os bolinhos estão crus”.

“- A torta queimou ou é impressão minha?”.

“- Argh! Isso é suco de laranja ou limão!”.

A esposa feliz, conta de 1 até 10...

A raiva passa, (deve passar!). É hora de tirar a louça suja e recomeçar a arrumação da cozinha (mas não sem um grande final do amigo longínquo):

“- Aposto que ela não cozinha pior que minha mulher!”.

Os dois grandes parceiros caem em estrondosas gargalhadas (começa a supervalorização do sexo masculino, o momento das piadinhas sobre mulheres). Ela dá uma risadinha ruborizada (mulher quando tenta simular graça naquilo que a ofende só piora a situação).

O marido a defenderá...

A defesa do marido:

“- Mas geralmente nossa família come bem! - três segundos de silêncio e o arremesso final: - Quando comemos em restaurante!”

Mais gargalhadas...

Ela conta de 1 até 20...

Enquanto os dois amigos conversam animados, o filho menor é empurrado escada abaixo por uma das tantas crianças que gritam pela casa. As demais se divertem jogando areia e batendo com pedaços de pau nas costas umas das outras. O filho mais velho entra pela cozinha com um punhado de areia nos olhos, baixo gritaria, alega estar cego. A esposa corre na tentativa de apagar o incêndio.

Os dois amigos conversam como se nada acontecesse. Afinal, há quanto tempo não se vêem?

A hora da partida é “aparentemente” anunciada. Ela esperará, pacientemente, para metralhar o marido com a “melhor” das gramáticas. Acabou a cerveja e ela sente uma inflamada alegria.

Provérbio masculino: Quando acaba a cerveja, acaba a amizade...

Provérbio feminino: Ainda mato o desgraçado!

Porém, sempre existe a saideira!

Eles saem abraçados. A saideira é o momento em que a amizade está mais intensa, o amigo é mais amigo, as histórias tem mais sentido e perdões são consentidos!

Hora de cortar os pulsos. Ela conta de 1 até 30.

A casa está sapateada por pezinhos infantis Há pedaços de bolo sob o tapete e brigadeiro nas almofadas. O cachorro é resgatado da privada... Ela repreende o filho que está sendo espancado, enquanto espera a visita dar um jeito no pequeno zoológico presente. Para educar “os hospedes” ela tem que repreender o filho:

“- Quantas vezes mamãe já disse que não supooooorta criança mal educada? Será que vou ter que deixá-lo de castigo?”.

O filho esperneia aos berros.

Ela sente vontade de gritar.

Conta de 1 até 40... não funciona.

O impulso de beliscar as outras crianças é mais forte que seu autocontrole emocional. Fará vingança com suas próprias mãos.

O comentário da visita:

- Não seja histérica!

A revelação do marido:

- Ao contrário da mãe deles, dificilmente brigo com meus filhos, eles sabem que quando eu digo “NAO” é definitivo e quando dou uma ordem falo apenas uma vez.

A cumplicidade:

- não é verdade, amor? Ele pergunta num ligeiro tom de afirmação, sem esperar de fato a resposta (que é tao óbvia!) E ela concorda ironicamente, mas ninguém percebe...

Ele passa maior parte do tempo fora de casa, e ambos sabem, (todo bom marido adora dizer que tem controle da situação), está manjado!

Sinistro! Mas afinal, era o amigo que há tempos não via!

A batalha acaba depois dos muitos “adeus” e as ladainhas do “volte sempre que quiser”, “apareçam lá”, “a casa é sua”, “obrigado por tudo...”.

O marido exausto e levemente embriagado, veste seu pijama para dormir.

- Temos que repetir domingos assim! Ele diz para a mulher exausta e continua:

- Bem que você poderia mudar essa cara, não? O que há de mal receber visitas que há tempos não vemos? Da próxima vez gostaria que você fosse mais simpática. O que poderão dizer de nós?”.

Ela conta de 1 a 50, cansada demais para discutir. Amanha, ele que se prepare...