O QUE É O AMOR?

Pois bem, essa pergunta me foi feita, esta semana, por uma colega de trabalho preocupada em querer saber por que o amor é tão inconstante em sua vida.

Primeiro, ao tentar dar-lhe uma resposta, eu já a preveni de que não tinha embasamento científico ou filosófico e, muito menos, profundidade em experiência para poder ser-lhe útil. No máximo, eu poderia trocar ideias e, através delas, ser, digamos, razoável em algumas colocações.

- Para começar, disse eu, o amor não é inconstante. Nós sim. Veja: ele quando chega, chega com as melhores das intenções, não é? Na verdade, o papel do amor é trazer harmonia, em função disso, a união dos indivíduos. E, através disso, nos dá a sensação de realização, de completude.

- Então, professor, o amor pode ser traduzido como felicidade? – me perguntou.

- Claro que não! O amor não é sinônimo de felicidade, completei. O amor é, conceitualmente – isto em nossa língua –, a formação de um vínculo emocional com alguém.

- Quer dizer que eu posso amar e não ser feliz? – questionou.

- Sim. Claro. Aliás, se você está me fazendo esta pergunta, fica evidente que você ama e, apesar de tudo, não se sente feliz com esse amor, pois está incomodada com os rumos tomados por esse sentimento dentro de si.

Como nós, seres humanos, somos complicados! – pensei. Buscamos tanto encontrar algo que nos preencha, nos dê motivação, que nos faça sentir estímulos, porém, quando encontramos – ou somos encontrados por ele – nós passamos a tomar atitudes contrárias à sua manutenção.

- Professora, disse-lhe, falar em amor, hoje em dia, é muito genérico. Nós, com a nossa pouca sensibilidade, banalizamos a palavra amor e, consequentemente, a sua essência. Para tudo nós dizemos “eu te amo”. Precisamos, portanto, saber qual o tipo de amor que nós, realmente, temos ou queremos para nós. Digo isso, continuei, porque algumas vezes nós confundimos o amor com a atração física. Não é. A atração física é somente a relação de instintos fisiológicos para dar perpetuidade à espécie e, claro, estabelecer as necessidades dos atos sexuais. Este tipo, infelizmente, com o tempo, cai em desuso e, por mais que tentemos acordá-lo, o seu sono é de coma profundo.

- Eu sei, professor, respondeu ela, sorrindo com a dubiedade da última frase. Mas, o amor que eu falo é o amor entre um homem e uma mulher. Por que ele é tão difícil de conservar?

- Não é, rebati. É o contrário. Ele é fácil de ter, eternamente, enquanto dure a relação. O problema é que nós nos cercamos de tudo quanto ele despreza e, por isso mesmo, essa falta de segurança nos torna insensíveis aos seus apelos. Em consequência, a cada dia – para conservá-lo só para nós – tentamos inventar mil fórmulas mirabolantes de como prendê-lo, o que ocasiona a possessão, coisa que ele detesta.

- Quer dizer que o amor não precisa ser cuidado?

- Precisa sim, falei. Entretanto, o cuidar do amor não pode ser traduzido em amarras, posse, dominação. Cuidar do amor é ir, aos poucos, fazendo-o enraizar-se cada vez mais dentro de nós. E como se faz isso? Sendo simples, deixando-o brotar livremente, regando-o somente com as doses necessárias de carinho, zelo e atenção. Não se faz necessário criar regras ou normas para protegê-lo. A melhor proteção que podemos dar ao nosso amor é amar verdadeiramente sem medos ou culpas.

Engraçado! – refleti. O medo de perder o amor, que chegou para nós, na forma humana de nossos pares, nos faz tomar medidas, muitas vezes descabidas, para poder conservá-lo por mais tempo. Por isso, atrelar ao amor sentimentos considerados menores, como o ciúme, por exemplo, é ir matando-o aos poucos.

- Mas, por que é que amor não é sinônimo de felicidade, professor?

- Simplesmente, porque a felicidade é o bem-estar pessoal ou, em outras palavras, sentir-se bem consigo mesmo, coisa que não está ocorrendo com você. No momento em que você se sentir bem, aí você pode apostar que é feliz no amor.

Confesso que não sei se a atendi com as respostas que ela queria ouvir. Acredito que não. Só sei de uma coisa: durante o restante do expediente, ela, várias vezes, se perdeu com o olhar fixo em um ponto imaginário.
 



Obs. Imagem da internet






Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 28/03/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2163685
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