DÈJÁ VU

Surpreendente a minha primeira impressão da cidade ainda na estrada.

A noite começava a cair. Uma chuva fininha molhava devagar e de forma dengosa nosso final de viagem. A cidade vista da distancia em que estávamos parecia uma pintura emoldurada formando um belíssimo quadro. Eu, emocionada, já estava tomada por uma atmosfera luminosa. Cada vez mais perto podíamos apreciar aquele encanto como um presépio todo enfeitado de luzes entre um relevo irregular. Lá estava ela, a linda Ouro Preto!

Dentro do carro quando avistei aquela imagem apaixonante, a curiosidade me tomou de imediato e, sem pedir licença, passou a me fazer companhia. A partir desse momento nossa família iria viver e conviver com um passado que fora tão forte na nossa história, mas ao mesmo tempo tão sensível. Quantos acontecimentos importantes ficaram todos esses séculos guardados por aquelas ruas, casas, cantinhos estreitos, ruelas e becos? Infinitas venturas e desventuras.

Chegamos! Enfim... A noite havia caído de vez, não conhecíamos a cidade, tínhamos indicações do hotel no qual ficaríamos por uns dias até que nossa casa estivesse totalmente preparada para nos receber... Seguir para o hotel era naquele momento a melhor opção.

É curioso notar que naqueles breves instantes, antes mesmo de conhecer a cidade, havia dentro de mim uma alegria inexplicável. Amor à primeira vista... Tudo me encantou de imediato.

De manhã a chuva fininha permanecia. Num instinto puro de imensa curiosidade, a primeira providência era ver a cidade à luz do dia. Abri a janela do quarto. Que beleza descortinou-se aos meus olhos! Uma imensa quantidade de telhados antigos com suas telhas molhadas fez meu coração se apaixonar ainda mais. Aqueles enormes casarios que se agrupavam em ruas de vários níveis... Uns mais altos outros mais baixos, seguindo o relevo acidentado da cidade. Entre um discreto nevoeiro se sobressaiam as pontas de algumas torres imponentes das várias igrejas que enfeitam esse cenário. Um sino, ao longe, nos dava as boas vindas. Naquele momento eu transbordava de alegria. Já sentia que conhecia cada detalhe. Era a emoção de um reencontro. O que é conhecido como DÈJÁ VU. Já sabia o que iria encontrar. Vivi ali. Quando? Não sei, mas vivi...

Minha alma, aos tropeços, pedia para sair daquele hotel e caminhar pelas ruelas e ladeiras. Eu só precisava andar, conhecer não era necessário, reviver, isso sim, tinha pressa. Não tem explicação. Já havia estado ali e, quem sabe, vivido grandes emoções. Certamente, se vivi, fui muito feliz, pois meu coração era uma felicidade só. Estava de volta.

Sentia-me dona daquele espaço, ia andando e uma aura de sentimentos bons me faziam companhia. Não tive dificuldade em me localizar, em me sentir em casa, em retornar às minhas raízes. Eu deixei raízes naquele lugar. Não me pergunte. Não há como explicar.

Vivemos nessa cidade que eu denomino como a princesinha de Minas por seis maravilhosos anos. Foi um tempo de total integração comigo, com meus sentimentos e minha espiritualidade. Do trabalho aos novos amigos, tudo se encaixou como num quebra cabeça de peças bem montadas. Aprendi e me deixei contaminar pelo verdadeiro amor.

Tempos especiais de ventura. Lembranças que jamais serão esquecidas. Certamente, e de forma especial, fui agraciada pela oportunidade de saborear emoções e sentimentos passados. Isso não tem dúvidas. Não foi apenas a sensação do dèja vu... Foi um encontro de amor.