Querer intensamente

Sem meta e nem rumo, a pista segue em frente. No meio das curvas, desvios e retornos que se encontram perdidos no caminho - talvez não mais que eu, que pouco sei por que lado da vida seria mais seguro caminhar -, eu procuro encontrar algum viver pra mim. Não o mais belo e promissor futuro de todos, que talvez nem mesmo alcance um terço do que prometem as espectativas, mas um que possa, talvez, trazer razoável tranquilidade a quem prefere se manter indigesto.

Uma indigestão inquieta, que não me faça perder as intensidades, misturadas a um exagero tão evitado pelos constantes conselhos que algumas vivências me trazem. Quero um um exagero um pouco maior que aquele, um exagero menos indiferente e mais próximo do âmago do corpo, mesmo que apenas momentâneo ou simulado. Aliás, há instantes em que o teatro cotidiano já não me incomoda tanto, e, ao final do espetáculo, todo esse ensaio se perde da realidade e cria uma falsa satisfação que anestesia os sentidos. O pouco que a vida me permitiu compreender dos sentidos é o suficiente para me ceder o desejo de alcançar qualquer um que exista, ao mesmo tempo que me prende ao medo das espectativas que, quando deixadas logo de início, já não são mais tão temorosas quanto eram no princípio.

Cynthia Funchal
Enviado por Cynthia Funchal em 17/04/2010
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