AS PULSEIRINHAS DO SEXO

De ponta a ponta, norte a sul do País, a cachaça das pulseirinhas coloridas invadiu todos os rincões nacionais, por mais longínquos que eles estejam. Se vocês forem, agora, neste instante, ao distrito de Cococi, pertencente ao município de Parambu, montado no alto sertão do Ceará, o modismo idiota, vindo da Inglaterra, está lá no braço de toda a estudantada da escolinha municipal. E as menininhas, muito anchas, fagueiras e coquetes, no cinema ou no largo da praça, todas se jactando por andarem a portar aquelas joças de cores as mais sortidas e variadas possíveis.

Ou, por outra, se desconfiam da veracidade do que lhes estou a dizer, vão agorinha mesmo a qualquer loca do território brasileiro – se alguém se mete a ir lá, eu estou a desafiar vocês –, mas vejam se não veem as belas pecinhas alienígenas de adorno expostas nos lindos e bem nutridos braços da caboclada do interior, isto lá desde o arroio Chuí à foz do Oiapoque, no extremo norte.

Pois muito bem, bem, bem... Inventou-se de inventar as tais pulseirinhas matizadas, cheias de cores chamativas, apelativas, bonitinhas e boçais. Boçais, pois uma cor é apenas uma cor, e a simbologia que cada uma representa é apenas o fruto da genialidade inventiva de não sei quem, não sei de onde e nem me interessam as ditas razões para quê.

Ora, mas essa invencionice aí veio da Inglaterra; é uma coqueluche na Ásia, no Extremo Oriente, no Quirquistão, na Cochinchina, e vai por além, até onde não poder mais ir. Até mesmo os arredios talibãs já estarão, logo mais, metidos no t s u n a m i desse modismo ocidental: o uso das pulseirinhas. E por que não dizer modismo dignificante e de altíssimo teor de utilidade para a Humanidade inteira?

Além de conter significação da mais nobre serventia para as massas do mundo inteiro, só comparável ao pragmatismo da vacina contra a paralisia infantil, aquele cafezinho-pequeno do Dr. Albert Sabin, se vocês a comparam às excelsas magnitudes dos efeitos benéficos das pulseirinhas coloridas dos nossos genialíssimos britânicos, logo eles, sim senhores, tão c u c a s meritórias que até já falam o inglês.

Psiquiatras, educadores, psicopedagogos, sociólogos, autoridades policiais, gente do Judiciário, toda uma gama de pessoas entendidas no melhor dos riscados, enfim, os nossos especialistas e um mundo de opiniões qualificadas vêm dando pitacos de que as pulseirinhas da coqueluche do momento, tão em voga entre a juventude feminina – e sei lá se os marmanjos também não se botam a usar – podem causar danos às famílias, no ponto referente à sexualidade das meninas usuárias da bobagem dos britânicos. Por mim, filha eu tivesse na infância e na adolescência, não iria proibir o tal primor de criatividade, mas diria “melhor não”. Mas cada qual dá o milho melhor de conselho para o leitãozinho.

Todos eles – especialistas no tocante às mais ecléticas atividades da sociedade – acham que as pulseiras do sexo têm efeito prejudicial à varonil mocidade feminina. Cada cor das tais “berimbelas” representa um apelo sexual, como se um código. E vem de lá um gajo, u r u b u s e r v a as garotinhas, nota as cores que a eleita por ele possui no molho colorido de rodelas e, sem quê nem para quê, vai faturando os seus intentos de ordem libidinosa: cheiro no pé do ouvido, uma bolinagem em alguma parte específica do corpo juvenil da guria.

Vamos supor, aqui, por exemplo, mas sei lá se as cores são estas, de fato: argolinha branca, um beijo inocente na testa; rósea, um selinho na boca; vermelha, amasso firme nos seios, etc., e segue-se por aí. Quando o marmanjão vê a pulseirinha preta, no braço da m i n a, então o bicho pega e a coisa se dana. O m i n o rompe a argola eleita, daí já se viu, é cabaço na certa. Não tomem as cores dadas, aqui, como as “cientificamente“ simbolizadas na mais original das burras invenções deste Terceiro Milênio.

Resumo da ópera bufa: uma menina estuprada – nem sei se morta – no Paraná e outras duas em Manaus, amigas das vítimas e testemunhas dos casos a concordar que o motor dos crimes tenha sido por obra e graça das “berimbelas”. Aí os senhores pais se tocam, entram em cena; a sociedade organizada tão cônscia dos seus deveres parte para a linha de ataque. “Vamos proibir essa maldição, que as nossas meninas não estão para ser devoradas pelos crocodilos, não, de jeito nenhum.”

Algumas escolas, ao largo da enseada do País, e certos municípios mais precavidos ou conservadores já boicotam os nobilíssimos modismos advindos da Inglaterra, estes ditos trastes sendo chamados pelos camelôs de pulseiras da malhação, do sexo ou pulseiras da amizade. Eita!... Até a Assembléia Legislativa do Ceará preocupada com o disparate, convocando os diretores de escolas estaduais, a fim de pôr moral nas casas de educação. Em outros Estados, também, e a pandemia pode pegar o bicho, na hora de ele ir beber água.

Não que me importe tanto com essa voga esdrúxula, até muito lúdica, se bem vocês me entendem, mas os apelos ao sexo já existem, às pampas. É só olhar, na tevê. Vocês prestem atenção nos anúncios publicitários das marcas – carros, geladeiras, refrigerantes, cervejas e o diabo a dez. Ora, pois não! E com a oferta dos tipos de iguarias coloridas, à mostra, servindo de braceletes, aí é tiro e queda. Tudo fica mais fácil para os respeitosos m i n o s irem atrás das suas caças, mesmo adentrando pelas veredas do estupro e demais crimes de coloração sexual.

Fort., 19/04/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 19/04/2010
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