IOGURTE FALSIFICADO (?)

O primeiro iogurte que provei era de abacaxi. Nunca vou me esquecer. Vinha nesse potinho tradicional. A tampa tinha um fundo verde com o desenho de um suculento abacaxi partido ao meio. Geladinho, cremoso e com uns pedacinhos de fruta no meio! Manjar dos deuses! Aquele gostinho me agradou de imediato. Virei uma consumidora inveterada desse produto...

Por que preferimos certos alimentos? Sei lá. O certo é que elegemos nossos gostos. Pimenta, pastel, chocolate? Cada um com sua mania. Também tem aqueles odiados! Entre os grandes vilões estão o quiabo (eca, aquela coisa babenta?) e o jiló (ui, que amargura!). Não é o meu caso. Sou fã dos dois.

Cresci numa família onde a gente era obrigada a comer de tudo. E não adiantava cara feia. A cara feia do meu pai para quem virava a cara para a abóbora era muito pior. E ninguém se aventurava a passar pelo repolho, pelo tomate, ou pelo jiló, se atrevendo a desprezá-los. Se alguém se fazia de esquecido, lá vinha a advertência: “Uai, cê num viu a couve, não?” O jeito era voltar caladinho e se servir.

Meu pai inventava também uns alimentos “danados de bons pra saúde”. Uma vez lhe ensinaram que o doce de certa raiz era um santo remédio pra “melhorar o sangue da meninada”. Evitava anemia, ajudava a fortalecer. Ele mesmo tratou de tudo. Buscou a tal indicação e preparou o doce. Cortou em grandes cubos e guardou. E era doce pra uma eternidade! Verdade seja dita, só de olhar dava água na boca. O problema era comer! Arghhh! Vai ser ruim assim lá longe... E a gente dizia, não? Era a primeira refeição do dia! E ai de quem recusasse tamanha delícia!

Hoje, afirmo: foi bom aprender a comer na “marra”. Não há nada que eu recuse à mesa. Lógico que numa escala de preferências. Sem maiores explicações, adoro empadas... E iogurte. Esse último, desde que provei aquele de abacaxi pela primeira vez. De lá pra cá muita coisa mudou. Novos sabores e novas embalagens. Grandes, pequenas, coloridas, pra todo gosto. Ainda fico com aquele do potinho. Igualzinho ao de antigamente... Embora já sem o mesmo sabor...

Fui ao supermercado comprar meu iogurte. A moça do caixa, com cara de novata, se atrapalhou todinha. Ficou toda enrolada com a marca e o preço no computador. Uma pequena fila foi se formando. Os clientes disfarçavam. Olhavam para os lados, apoiavam o corpo ora num pé, ora no outro. Começaram a trocar olhares entre si... E a moça lá, coitada, com o iogurte na mão. A tensão aumentando. Ninguém aguentava mais. Até que ela me disse: “Você sabe se esse iogurte é original?”. Confesso, não entendi a pergunta. Aliás, ninguém entendeu. O impasse ficou por conta de uma velhinha que com a maior cara de espertinha foi logo retrucando: “Uai, fia, agora já tão trazeno até ‘iorgute’ do Paraguai?”

Aí, ninguém aguentou! A fila inteira caiu na risada... Sorte da moça que já estava pra ser trucidada...