DESCUECADO

Estava eu no meu canto, navegando pela internet, quando o telefone toca e a Dona Mari atende lá na sala:-

“- Alô, sim, é ela. Oi, Karina, tudo bem? Daniel está em casa? O Tomás vai bem, minha filha? ... Ah, sim, o Roberto está lá no computador, vou falar com ele, mas posso adiantar que a gente vai sim, com certeza! Tá legal, vamos aguardar, ok? ...”

Daí a pouco ela vem até o quarto do meio (o do Tomás ...) e me dá a boa notícia, informando:-

“- A Karina mais o Daniel e o Tomás nos convidaram pra ir até o “Xico da Carne”, aquele aqui perto, comer uma costela de porco, tomar um chopinho, que tal? ...”

“- Só se for agora!”, eu respondi de pronto, já procurando desligar a máquina. Falou no Tomás, eu paro com tudo e não quero mais saber de outra coisa.

Mais ou menos uns trinta minutos são passados, quando toca a campainha do apartamento e é a Karina comunicando a chegada do trio. Já prontos, eu e Dona Mari descemos ao encontro do jovem casal e do nosso neto caçula, o Tomás. Os pais no banco da frente do carro e o Tomás amarrado na cadeirinha lá atrás. Quando minha mulher vai entrando, ele diz, taxativo:-

“- Vovó, deixa o meu avô entrar primeiro! Fica perto de mim, vovô! ...”

“- Manda quem pode, obedece quem tem juízo ...”, eu brinco com a minha loura, já rindo gostosamente.

O restaurante, novo no pedaço, fica próximo à nossa residência, numa simpática avenida da Cidade Nova. A noite estava apenas começando, fresca, enluarada e as pessoas buscavam um entretenimento na sexta-feira, antegozando o final de semana.

Afinal, estamos em abril, no outono, as águas de março já foram embora e o tempo é propício aos passeios, às escapadelas, às curtições com a família e amigos, mesmo que seja para um simples bate papo na mesa de uma churrascaria.

No “Xico da Carne” existe um espaço destinado à criançada, com “piscina de bolas de plástico”, “pula-pula” numa rede elástica, “túnel de plástico” que dá voltas e desemboca lá atrás, nos fundos do restaurante, etc., e o Tomás saiu logo da nossa mesa, após tomar rapidinho um guaraná, em busca dos brinquedos e dos coleguinhas. Eu, avô vigilante, sempre alerta, fui atrás pra conferir e depois voltei pra companhia dos meus. Afinal, o papo rolava descontraído, alegre, entre brindes (o Daniel havia pedido também um espumante) e muita alegria. O assunto era o de sempre, as peripécias do Tomás. Mamãe Karina falou:-

“- Dona Mari, dia desses fomos visitar o Dr. Rogério, a Juliana e o Tomás ficou entusiasmado. Ele adora brincar com a Mariana, a filha do casal, um pouquinho mais nova do que ele. No dia seguinte, a mãe dela telefona e me diz:

“- Karina, você acredita que eu achei aqui em casa uma cuequinha do Tomás? ... Ele deve ter esquecido aqui, pode ser? Quá, quá, quá! ...”, riu bastante a mãe da Mariana, médica também.

Aí eu não agüentei. Deram o mote pra mais uma historinha e não deixei por menos, indagando logo do lourinho serelepe, na sua volta dos brinquedos:-

“- Mas, Tomás, como é que você vai visitar uma coleguinha e acaba perdendo a cueca na casa da menina?! ... Que negócio é esse, Tomás? E o pai dela? O que foi que ele falou? ...”

E ele, largando do copo de guaraná, saltando da cadeira, abrindo os braços, falando e gesticulando bem ao seu estilo, com aquela sua carinha de anjo querubim:-

“- Ah, vovô, ele falou! Ele falou assim, “- Olha, seu maluco, eu vou te pegar, viu? Eu vou te mandar pra uma creche de pobre, viu??? ...”

Foi o quanto bastou pra que nós e alguns circunstantes, em mesas próximas, acompanhando a exibição do lourinho, prorrompêssemos em estrepitosas gargalhadas.

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 23/04/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 23/04/2010
Reeditado em 26/04/2010
Código do texto: T2215725
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