Dói Mais Perder um Amor Secreto

Estou ferido, machucado. A dor que sinto é maior do que qualquer outra dor que jamais senti, porque não é uma dor física, porque não existe remédio capaz de exterminá-la ou pelo menos reduzi-la. É uma dor que me fende a alma, abrindo-a de alto a baixo como se fosse uma lâmina afiada, rasgando, estripando e essa dor reflete no meu peito, apertando e comprimindo meu coração e meus pulmões. Tamanha é a pressão que o suspiro profundo é muitas vezes inevitável, e quando ele acontece, preciso me controlar para que não venha o gemido, pois ele denunciaria a dor.

É lancinante a dor da perda de um amor e acho que a grande maioria das pessoas já sentiu uma dor igual ou semelhante a esta que eu sinto agora, mas existe uma diferença, que é a chance de poder externar a mesma dor.

Alguém que sofre e chora por amor não é incomum.

Alguém que se enclausura em seu mundo por culpa de sonhos desfeitos não é incomum. Alguém que se debruça numa mesa de bar tentando afogar as mágoas de uma paixão em incontáveis copos de bebida não é incomum.

Alguém que conta sua desgraça aos amigos e recebe em troca palavras de encorajamento não é incomum e mesmo que nada o anime naquele momento, o simples fato de poder contar, de poder compartilhar o próprio infortúnio, atua como um bálsamo revigorando a alma, pois a impressão que o sofredor tem é de que a dor foi amortizada entre outros corações e, portanto, a carga que lhe cabia ficou menor.

Nos casos comuns, nada disso é incomum, o grande problema é quando a dor que você carrega não pode ser compartilhada com ninguém, pois o amor que inunda seu peito é secreto.

Como se permitir chorar, como se permitir gemer de dor, como se permitir ouvir uma música triste na penumbra, como se permitir tomar algumas doses para afogar as mágoas, como se permitir uma barba de dias por fazer, como se permitir o olhar perdido e distante que permeia os momentos de tão profunda tristeza, se há esposa e filhos esperando de você nada mais do que o normal e corriqueiro?

O mais duro desta dor é ter que sorrir, como se nada tivesse acontecido, é ser um bom pai e brincar com os filhos, como se fosse um dia como qualquer outro, é olhar a lição de casa e tentar mostrar o mesmo interesse, porque afinal eles não têm culpa de nada e merecem pelo menos isso.

O duro é beijar a esposa, e beijar apaixonadamente, como sempre fez, sem deixar que ela perceba nenhum tremor em meus lábios, é olhá-la com o mesmo carinho, ao mesmo tempo em que encobre os sentimentos para que ela não veja a tristeza no fundo dos olhos, é fazer amor com a mesma volúpia e desejo, não permitindo que a dor transpareça.

O difícil é guardar dentro de si, algo que, por sua própria característica, sempre apresenta vestígios externos.

É duro e sofrido perder um amor, porém, muito mais dolorido e complicado é perder um amor secreto.

Star Dusty
Enviado por Star Dusty em 21/08/2006
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