Crônica num minuto

Tenho um minuto para escrever esta crônica antes de chegar atrasado. Posso escrever rapidamente porque vivemos apressados, portanto aprendi a escrever velozmente. Começo atualizando o recurso através das notícias. Leio os jornais atrás de assunto. Há vezes em que me comovo com alguma situação trágica. Injustiças cegas sobram no mundo.

Uso a crônica como um palanque e discuto os rumos da existência como se falasse ao pé do ouvido dos amigos.

Muita gente faz crônica falando de si mesmo. Acrescentando virtudes, colorindo valores, abstraindo azares do campo pleno e ensolarado da vida. Tudo se repete e vai colhendo iguais na zona de identificação. Há aqueles que puxam assunto dizendo que nada tem para contar. Nesses dias prefiro não escrever. É o meu modo de calar. Outros contam viagens com riquezas de detalhes dessas explorações geográficas. Tem aqueles que se enveredam pela exposição da vasta cultura adquirida. Reabrem livros velhos e enaltecem os novos. Precisam firmar com o leitor contrato de direito ao comentário já que estão conectados com as grandes referências. São cronistas em busca de identidade cultural.

Quando assisto telejornais sempre acabo lembrando o quanto nada sabemos sobre o Brasil diante de tanta informação externa. Como será a vida no Acre agora? O Acre nunca sai no jornal. O Acre parece que não faz parte do Brasil. Do mesmo modo ocorrem cronistas ligados as grandes resenhas literárias. Sobrevoam o mundo para esquecimento do chão de terra simples que pisamos. Mas ninguém melhor do que cronistas para exame dessa realidade.

Gosto quando reclamam do texto. Sinal de que atingimos o leitor no ponto reflexivo já que a reflexão se tornou patrimônio de poucos eventos, sendo a maior parte de cunho religioso o que é uma grande pena, pois o mundo continua o mesmo. Então vem a enxurrada de louvações de fé no mar de contradições. O cronista laico festeja os enganos e falhas de todas as essências que reunidas dão apenas o sinal abstrato útil para seguir adiante. Nasce o cronista da feira, da alface, da batata e dos preços inflacionados tecnicamente para diminuir o consumo.

Depois a crônica está pronta para ser exibida. Será abandonada num sítio qualquer de publicações ou vertida para o ostracismo da gaveta. Tudo acompanhado pelo estranho sentido das palavras.