Difícil aceitar críticas

Em Porto Alegre, um cidadão, cansado de ver “espertinhos” pegando as vagas do estacionamento destinadas a deficientes sendo usadas por quem não precisa, reclamou com o “espertinho” e levou dele uma barra de ferro na cabeça. Podia ter morrido, pois foi preciso fazer uma cirurgia de emergência.

É por isso, por atitudes animalescas como a citada acima, é que muitas vezes calamos. Assistimos passivos a uma porção de coisas que sabemos estarem erradas e nos calamos, porque, afinal, nunca se sabe quem está do outro lado. Ou seja, não sabemos se a pessoa de quem iremos reclamar é de boa índole, se não é muito agressiva ou ainda se é quase um criminoso.

Por conta do medo, nos tornamos egoístas e covardes, algumas vezes. E aí fico pensando o quanto isso é contra a civilização. Pessoas civilizadas deveriam saber conversar, respeitar as regras, respeitar as pessoas e jamais, em hipótese alguma bater com uma barra de ferro na cabeça de outra pessoa porque foi criticado. O coitado que levou a barra de ferro na cabeça, provavelmente é um cidadão que acredita que se nós presenciamos uma coisa errada, temos de reclamar para que as coisas funcionem. Agora, é bem possível que ele se cale. Que pena!

A impressão que tenho é que antigamente as pessoas eram mais tolerantes quando eram criticadas, como se elas se envergonhassem de estarem fazendo algo errado. Agora não, é o contrário. As pessoas agem de modo errado e recebem com “quatro pedras nas mãos” quem for lhe fazer qualquer tipo de crítica ou reclamação.

Filhos, por exemplo, antigamente os pais até exageravam quando um vizinho viesse lhe fazer queixas, pois davam todo o crédito a esse sem sequer ouvir o que o filho tinha a dizer. Hoje é exatamente o oposto. Se você resolver reclamar do filho do seu vizinho, este lhe fará cara feia e é bem capaz de brigar por você estar falando mal do seu “reizinho”(filho). O ideal seria o meio termo, nem como era antigamente quando os filhos nunca eram ouvidos em sua defesa, nem tampouco como é agora, em que os pais, em geral, é claro, não querem ouvir reclamações dos outros sobre seu filhos.

E não é só enquanto pais que as pessoas estão intolerantes, é enquanto pessoas mesmo. O caso da briga por causa da vaga do estacionamento para deficientes é só um exemplo. Mas essa intolerância é presenciada o tempo inteiro. No trânsito, por exemplo, nunca ninguém pode ser gentil e dar espaço para a outra pessoa, ou se, por acaso alguém errar, perdoá-la, ser paciente. Não, no primeiro erro de alguém, mão na buzina, com toda vontade, obviamente.

Outro dia no supermercado, fiquei espantada quando, sem querer, bati com o carrinho nas costas de uma moça, pedi-lhe desculpas e ela virou-se e disse-me em tom agradável: “Não foi nada!” Ora, estava esperando a cara feia de sempre, o mau-humor de sempre. Mas não. Fiquei estupefata! Ah, e feliz. Como é bom quando as pessoas são gentis conosco... Por conta disso tenho procurado ser mais paciente e querida com todos, pois tenho percebido como isso é bom. Menos com uma vizinha chata aqui do prédio. Toda vez que passava por ela eu era sorridente, ela sempre seca, quase uma uva passa. Agora também dou aquele “oi” seco. Ah, cansei.

É sério, temos de repensar sobre as críticas recebidas. Está complicado viver em sociedade assim, em que ninguém tolera ser criticado. Será que se tem alguém reclamando eu não estou mesmo fazendo algo errado? Deveríamos nos perguntar. Tá bom, vou ser simpática com a vizinha novamente, mas se ela for antipática, não a cumprimento mais.