PRA DIREITA OU PRA ESQUERDA?

Perto de casa, num Pálio prata, um jovem casal: “Por favor, onde fica a Policlínica?” Faço um olhar distante pela avenida em sua extensão. Não suspeitam de nada. Sei que pensam: “Ih, será que esse lugar é muito complicado?”. Na verdade, estou ganhando tempo. Pensando mesmo. Não na Policlínica, é claro. Estou cansada de saber onde ela fica. Lugar até “facinho” de achar. Eu penso é na informação. Direitas e esquerdas...

Confesso humildemente: essa coisa de direita e esquerda me dá um nó. Nunca fui boa nisso. Por que cargas d’água ficou essa falha? Sei lá, vá se entender. O negócio é que tenho de pensar. Verdade que penso rapidinho, coisa de segundos. Mas o automatismo? Chi! Não é comigo, não! Tenho inveja de quem consegue. É aquela beleza, aquele desembaraço, que deixa a pessoa com cara de sabida! Sim, porque dependendo de mim, ninguém chega a lugar nenhum... Pelo menos no certo, não...

E isso não é bobagem. Onde foi a queima de etapa? Não sei. Talvez eu seja mesmo meio sem direção. Ou talvez a professora tenha dado um grito em meu ouvido. Trauma? Pode ser! Ela pode ter vaticinado: “Você tem ‘poblema’ (falava assim) com direita e esquerda”. E aí ficou. Posso ter acreditado, daí o bloqueio. Aliás, na Pedagogia moderna, um aluno nunca tem “poblema”, tem bloqueio. E professora é professora. Quem sou eu pra desafiar um diagnóstico daqueles? Cresci tendo que pensar pra onde é à direita e pra onde é à esquerda. Coisinha de segundos, mas tenho de pensar...

Além de não ser bobagem isso traz mesmo muito “poblema”. Pra gente e para os outros. Informações na rua? Um desastre. Como diria meu pai “Ih, eu não presto pra isso!”. Mas, enfim, vou negar uma informação? Não posso. Pelo menos tento. Com alguns prejuízos, não nego. Já fiz gente errar a saída da cidade. Sem contar que outros foram pro lado do Rio São Francisco, achando que seguiam pra algum restaurante no centro. Sempre na melhor das intenções, que fique bem claro. Explico, explico e as pessoas entendem direitinho. O “poblema” é vê-las convergindo suavemente em direção totalmente contrária. Se pudesse, juro, iria atrás, correndo: “Errei, moço, volta, é pra lá!”. Mas fazer o quê? Já foi, já foi...

Naquele momento, o casal esperava. Os dois com um olhar de interrogação aguardavam que eu saísse do meu ar circunspecto e desse meu valioso veredicto: Onde é a Policlínica? Mentalmente, jurei: “Hoje nada me faz errar”. Pensei na mão do noivado: DIREITA. Pensei na mão do casamento: ESQUERDA. Vamos lá? “Então, em frente três quadras, depois à direita, mais quatro quadras, à esquerda, primeiro prédio do lado direito, chegou! Já vão estacionar em frente. Não tem erro...”. Ufa! Absolutamente certa dessa vez! Repeti tudo novamente só pra tirar “uma ondinha”. O casal agradeceu e seguiu...

Vitória pra mim! Direitas e esquerdas perfeitas! Cruzes, Deus que me livre de fazer os outros se perderem por minha causa. Queria ver se fosse comigo. Ou com você, que agora me lê! Ia ser bom, ia? Uma sensação de alívio me invade. Depois de hoje, ponto pra minha direita/esquerda! Sinto que sou outra pessoa. Subitamente, adquiro uma autoconfiança impressionante: nunca mais erro nisso! Consciência tranquila, refaço mentalmente o trajeto do casal. Opa! Ai, ai, ai, meu Deus! Mandei seguirem quatro quadras? Ai, desta vez o “poblema” foram as quadras... A esta hora o Pálio prata deve estar estacionado bem em frente ao açougue do Tião...