A SERRA DA MATA VIRGEM

Fiquei imaginando, ainda na confusão da chegada, de onde vinha aquele verde. A informação era que não chovia há mais de quatro anos. O pasto estava sêco, ainda se podia ver restos de capim cor de ouro velho misturado com chumbo, camada única que ainda cobria o chão. O sol inclemente salpicava seus reflexos e suas labaredas saiam do chão. Olhava-se o tempo via-se a quentura tremendo diante de nós. Um mormaço de quem está preste a chover. Vez ou outra corria um ventinho fazendo redemoinho deixando o terreiro limpo como se acabara de ser varrido. Interessante, o terreiro me parecia menor. Aliás, notei também, em rápida vista, que as distâncias diminuiram. Primeiro, foi a estrada e o riacho, de antes da chegada, mais estreitos. Depois, a porteira da entrada da fazenda gambá, me parecia ser mais perto, de lá até a casa do meu avô.O pé de figo de frente, onde na hora de meio dia adormecia deitado no lombo escorregadio de craúna, minha vaca, enquanto ruminava,mais baixo. Agora, o terreiro que ficava na frente da casa principal, a igrejinha e a casa de farinha, me lembrava tão maiores. Mas tudo estava ali. Intocável e do mesmo jeito, nada havia mudado, exceto eu que havia crescido e talvez o que via grande quando pequeno vejo pequeno hoje grande.

A serra não, estava até maior. Sempre achei-a grandiosa. Alimento ainda a vontade de subi-la. Uma verdadeira escalada, talvez o motivo de nunca me deixarem fazer nos tempos de criança. Diziam que era perigosa. Nunca senti medo dela.

No meio da subida tinha uma formação de relêvo como se fosse uma entrada para seu interior. Essa fenda, toda rodeada de mata fechada que impedia o vislumbre, nos levava a lembrar de histórias antigas. No fim daquele buraco passa um rio de água doce. Dizia Seu Maneco Terto...

-Ele é todo subterrâneo. Aparece na superficie apenas um barreirinho. Não muito grande,mas profundo. A Mãe-dágua aparecia em meio a suas águas e ficava tomando banho de sol sentada uma pedra grande na sua beira. Mergulhadores dos mais afoitos nunca tocaram o fundo. Zequinha de Teteu quase morre. O danado mergulhou dizendo que só voltaria com a lama do fundo na mão. Apareceu na superfície, minutos depois do mergulho,com os olhos abuticados de quem está morrendo por falta de ar, dizendo que a água de acordo com profundidade muda de cor. Assustou-se quando a água ficou transparente, mais tão transparente que doía nos olhos, tal qual o clarão do sol. Resolveu voltar e foi sua sorte, seu fôlego quase não deu para percorrer o caminho de volta. Os beiços do homem tava roxo, quase morre. Depois ninguém mais mergulhou. Exceto um gringo, que apareceu naquela região, não sei de onde veio, mergulhou nas vista de todos que estavam presentes e não voltou mais à superfície nem morto, até hoje.

Conta-se, que um dia na pedra grande da beira daquele barreirinho. Apareceu de sua água e na pedra sentou-se, a mãe-d’água, para chorar sua solidão. Suas lágrimas salgadas de origem marinha, derramara-se, num pranto incontido, montanha abaixo e fizera nascer uma fonte bem no pé da serra. Uma nascente que fornece água a todos riachos que existem na região.

Sempre acreditei nessa história. A água desta região tem o gosto de lágrima. É toda salobra e a vegetação às margens dos riachos parecem com a dos mangues. Meu agreste, quase sertão, já foi mar...

Minha Serra sempre está verde. Ouvi, outra vez, alguém a chamar por Serra Verde. A Serra bonita ficava mais distante dali.. Sua vegetação, na raiz, talvez receba a irrigação , tão necessária ao meu agreste, do rio subterrâneo que dizem existir. Por capricho do Criador a água tão necessária em cima está em baixo da terra. A fonte do pé da Serra, nunca secou, mesmo com todos as secas. A Serra, suas curvas suaves e escarpadas, por vezes, forma todo o horizonte. O meu horizonte. E ela estava ali, verdinha verdinha, bem na minha frente.

Crontei, depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 01/05/2010
Código do texto: T2231238