Sem Preconceito

Nasceu minha filha; a Joanna. Linda, obviamente. Nestes primeiros momentos estamos nos entendendo bem. Eu falo bastante com ela. Ela só escuta. Chora às vezes. Por vezes faz careta. Acho que ela não concorda com tudo que digo. Eu aproveito. Falo tudo que tenho para dizer pois daqui a pouco talvez ela nem me escute mais. Por enquanto ela presta bastante atenção. Uma atenta ouvinte ela é; além de linda.

Disseram-me que nesta idade, se é que um mês pode-se dizer que é idade, os bebês não enxergam nitidamente. Eu tenho dúvidas quanto a isso. Para mim, ela enxerga. Quero acreditar que minha filha me enxerga bem. Afinal, os olhões dela estão sempre bem abertos, observando.

Ontem fiquei só me deliciando com ela. Só cuidando, sem falar qualquer coisa. Ela também só me olhava. Pelo menos eu acho que ela me olhava. Linda. Todos os pais devem achar que seus bebês são os mais lindos e mais espertos. Que fazem coisas que só eles fazem. Todos os pais pensam assim. Eu, de fato, nem tanto... um pouco, talvez. Pensando bem..., eu também penso assim e pronto. Minha filha é linda e observadora. Mesmo para um bebê de apenas um mês.

Fico imaginando o quanto mais linda e esperta ela ficará quando crescer. Tanto em beleza quanto em personalidade. Estranho, no entanto, é que não visualizo como será esta beleza. Nem faço idéia de como será seu rosto nem em quem ela se tornará. Apenas a imagino linda. Incondicionalmente.

Voltei a pensar no que ouvira sobre ela não enxergar. Será que não estás me vendo, Joanna? Essa hipótese, a princípio refutada, ocorreu-me coerente. Quem sabe ela esteja deixando para que eu me mostre? Quem sabe ela está me oferecendo a oportunidade para que eu próprio me apresente a ela? Ela ouve indiscriminadamente o que eu falo. Mantem-se aberta, sem qualquer preconceito. Fica só olhando, mesmo sem enxergar, para que eu me revele como sou.

Fico admirado com essa sabedoria dela. Tenho orgulho da minha Joanna. Começo a aprender muito com a minha filha. Mais do que tento ensinar. Vou sempre achar ela linda. Devo deixá-la, todavia, para que ela mesma se apresente. Tal como ela faz comigo hoje. Sem preconceito.