FILHOS: Como nossas crianças estão sendo criadas?

Vendo o cenário doméstico atual no qual estamos inseridos, constatando que o modelo atual está prejucando a relação entre pais e filhos, às vezes me questiono sobre como, onde e quando começamos a deixar nossas crianças sendo criadas em creches, pensando que isso não traria consequências.

Hoje em dia, um casal, em sua grande maioria, é formado por pessoas em que ambas têm suas profissões e carreiras. Quando chega o bebê, a mãe fica em casa cuidando dele até os quatro meses, depois o põe na creche para voltar ao trabalho. À partir daí, é uma rotina de os pais passarem o dia inteiro trabalhando e somente à noite buscar o filho na creche. Chegam em casa cansados e a criança exige uma atenção que eles, na maior parte das vezes, não estão com disposição para dar. Em seguida a criança dorme porque acordou cedo. Com isso, o tempo de convivência dessa criança com o pai e a mãe, fica restrito. Quando se tem a oportunidade de o filho ficar com os avós, as coisas ficam um pouco mais tranquilas, contudo, neste texto, tratarei sobre a convivência nas creches.

Na creche, o bebê, que foi retirado cedo de sua cama, do seu ambiente familiar, é recebido e cuidado por profissionais responsáveis por ele e muitos outros, dependendo, é claro, da instituição, mas na maior parte dos casos é assim. Lá tem suprida, dentro do possível, suas necessidades físicas e fisiológicas. Digo dentro do possível, pois na grande parte das escolinhas, as profissionais têm que cuidar de vários ao mesmo tempo, o que afeta sua tarefa, inclusive levando-as ao estresse. Essa jornada excessiva é, muitas vezes, transmitida aos bebês em forma de tratamentos frios e ríspidos. Isso quando não chega mesmo a casos de maior violência, que pode ser física ou moral. Claro que, algumas atendentes, ainda que com uma sobrecarga de trabalho, conseguem ser mais carinhosas, mas isso são exceções.

Agora, se em casa a criança tem pouco tempo com seus pais, a escolinha ou creche não tem condições de lhe transmitir educação, ou o que consegue não é como o desejado, ninguém lhe transmite valores, conversas com exemplos de boas maneiras e princípios, quem o fará? Mais ainda, carinho, atenção e afeto, fundamentais no crescimento intelectual e afetivo. Quem suprirá de amor essa criança?

Pais angustiados e sentindo-se culpados, acabam tentando resolver a falta de tempo com presentes para demonstrar seu amor. Resolve? Não. Tanto não resolve que, conheço um rapaz cujos os pais têm um excelente padrão de vida, porém não têm tempo para o filho porque os dois trabalham fora. Esse adolescente é um desconhecido de seus pais, eles não conhecem seus gostos, sonhos e desejos. Perderam o vínculo afetivo com o filho, não sabem nem o que conversar com ele. Revoltado, certa vez disse a um amigo mais pobre e que tinha os pais mais próximos: “eu queria ter um pai assim como o seu, que fosse meu amigo”. A distância e a falta de tempo era tanta que certa vez o pai queria presenteá-lo com o melhor, o mais moderno aparelho de “games” e teve de pedir a um amigo seu para ir com o garoto na loja lhe comprar, porque nem tinha tempo, nem sabia qual o aparelho ele preferia. O menino chegou a desabafar que gostaria de que o pai estivesse ali na hora da compra.

Obviamente que, em muitos casos, o casal trabalha apenas para tentar manter uma vida digna e com pouco ou sem nenhum luxo. Todavia, já vi muitas situações, cujas as escolhas poderiam ter sido diferentes, como apenas um dos dois trabalhar fora e o outro ficar em casa com o filho, por exemplo. Aí o leitor pensará, “mas fica muito difícil sobreviver com um salário muito baixo, é preciso a ajuda do cônjuge”. Mas digo, às vezes essa ajuda, se for para a ponta do lápis, tendo que rever as despesas com escolinhas, com material, roupas extras e todo o aparato exigido para sair todo o dia de casa, sem contar na conta da farmácia, já que a criança tende a ficar mais doente por estar sempre exposta à outras crianças, talvez perceba-se que não é lá muita vantagem.

A grande dificuldade de decidir isso, quem vai parar durante um tempo com sua carreira profissional para cuidar dos filhos é que é complicado. Hoje em dia a mulher não aceita perder o que já conquistou, que foi seu espaço no campo de trabalho. Por outro lado, os homens, nem todos, porém em grande parte, acreditam ser seu o papel de trabalhar para levar o sustento à família. Nesse caso fica complicado, pois ambos têm o direito a suas carreiras. Mas e os filhos, onde ficam nessa história toda?

O tempo, no mínimo deve ser entre dois anos e meio à três, período em que ele receberia em casa, de um dos pais, o aprendizado de suas primeiras palavras, aprenderia a andar, e ganharia todos os estímulos para poder se livrar das fraldas. Além, naturalmente, de todo o carinho e atenção ao qual merece um bebê.

Atualmente o cenário que vejo é o de crianças e adolescentes mal-educados, desrespeitosos com adultos e idosos, sem limites e rebeldes. Não que a meninada antigamente não fizesse as suas travessuras e nunca tivessem rebeldias, entretanto, o que percebo é uma desproporção disso. Alguns resultados já andam por aí, dirigindo automóveis, sentido-se donos do mundo, sem qualquer respeito com o próximo. Definitivamente esse modelo não está dando certo.

O que será necessário ser feito para mudar essa situação, não sei. Apenas pretendo discutir essas idéias para que, juntos, possamos encontrar e buscar um modelo melhor, que traga uma melhor qualidade de vida familiar. Afinal, quando se pensa em ter uma família, em gerar uma criança, este não pode servir ao bel prazer dos pais atendendo apenas aos desejos maternos e paternos. Ficar dois ou três anos com seu filhote pode ser fundamental para estabelecer um vínculo-afetivo que se perpetuará por toda vida. Lembre-se, gerar um filho é também gerar uma grande responsabilidade!

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