A Consciência

Certo dia ao sair no jardim via algo a se mover próximo a cerca viva, olhando mais de perto percebi um filhote de sangre de boi bem pequenino, porém sua calda e asas já estavam com algumas penas de tamanho razoável. _ Deve ter caído do ninho ao tentar voar, pensei!... _ Conversei um pouco com ele, com tudo não o toquei. Quando eu era criança ouvi minha mãe falar que se tocasse em um filho de pássaro, enquanto estivesse no ninho, às cobras o comeria. – Ele também estava assustado com a minha presença, então o deixei quieto. Chamei minha filha mais nova e mostrei-lhe o bichinho, afirmando a ela que logo ele voaria, pois já tinha bastante penas!

No dia seguinte minha filha me falou:

_ Mãe, aquele pássaro continua lá!...

_ No mesmo lugar? _ Perguntei.

Ela afirmou que sim. Achei estranho! Por que ele não coou?... Perguntei-me. Mas logo me veio à certeza de que isso logo aconteceria então me tranqüilizei e o deixei quieto.

No outro dia meu filho mais velho entrou em casa com algo na mão:

_ Olha mãe o que eu encontrei no jardim!... _ E penalizado completou: _ Vou ver se ele come; está com o papo vazio. Mas acho que logo ele voa, já tem bastante penas.

Olhei o bichinho todo: suas pernas, asas, papo e penas; tudo parecia perfeito! Por que ele não voou?...

Depois de alimentado foi devolvido á seu lugar. Dois dias depois minha filha o trousse a mim mais uma vez.

_ Mãe, ele ainda não voou!... _ Novamente o observei detalhadamente: as penas das asas e da calda estavam completas, o papo estava cheio; entendi que sua mãe o estava alimentando. _ Mas porque ele não voou?... Mais uma vez me perguntei! E o devolvi a seu lugar. Horas depois minha filha, a mais velha das mulheres, na época com nove anos e meu filho casula, passou pelo jardim e o viram:

_ Mãe o bichinho está cheio de formigas, acho que está morrendo! Está se debatendo! _ Falaram ao mesmo tempo, com um tom muito triste.

Retirei todas as formigas e me pus a observar como ele era lindo... Seus olhos brilhavam. Tudo parecia tão perfeito!... Mas porque não voou? Mais uma vez me perguntei.

Então ele começou a fazer movimentos bruscos, comprimia-se todo pressionando suas pequenas asas contra o corpo; esticava e encolhia pernas e pescoço; abria e fechava olhos e bico.

_ Coitado. Está morrendo!... _ falamos todos ao mesmo tempo.

Coloquei um balde emborcado sobre ele e comecei a bater, na tentativa de reanimá-lo; mais uma crendice que aprendi com a minha mãe nos meus tempos de criança. O sacudir; soprei em seu bico. Mas de nada adiantou! Seus olhos e seu bico ficaram abertos, bem abertos; e enquanto eu tentava fechá-los me perguntava: Porque não voou?... Qual foi o problema? Tudo parecia está bem!

Diante daquela situação percebi que nem tudo é o que parece ser! Quantas vezes achamos que alguém tem tudo o que precisa para ser feliz e viver bem; e baseando-nos em aparências deixamos que passassem despercebidos muitos fatos. Acontecimentos que poderiam ser evitados. Percebi que todos nós somos apenas filhotes que caem do seu ninho: uns caem direto para o voou; outros vão ao chão e em seguida voam e outros precisam de ajuda para voar!... Sem dúvidas há uns que ajudam, outros que são indiferentes; e há aqueles que param olham, avaliam, criticam; e há os que se penalizam, mas nada fazem para ajudar.

Aquele filhote poderia ter sobrevivido se tivesse sido recolocado em seu ninho. Quantos filhotes estão nesse momento precisando ser recolocados em seu ninho?!...

Precisamos nos posicionar para uma ação digna e assertiva e, assim podermos dizer de coração aberto sem culpas e sem remorso: Ele voou!...

FIM

Cícera Maria
Enviado por Cícera Maria em 04/05/2010
Código do texto: T2236459
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