As coisas e os seres

Palm top, celulares de todos os modelos, que fotografam, escrevem, gravam, pensam… ipod, iphone, email, orkut, messenger, blogs, mp 3,4,5, notebook, gameboy, cyber, lan house, dvd, cd, nintendo I, play station, ex box, pen drive, usb, blue tooth, wireless, dual core, home page, foto log, touth screan. hilux, pajero, troller, rummer, audi, ferrari, mitsubish, honda civic. dolce y gabana, colcci, versace, louis vuiton. Tela plana, plasma, 50 polegadas, assim, assada...

Por que todas estas coisas? O que são todas estas coisas?

Fui pedir ajuda aos filósofos, de Adorno a Marx, e encontrei explicações que me satisfazem. Fetichismo e reificação. Desculpe os palavrões. Mas é isto mesmo que acontece com estas mercadorias, produtos, equipamentos, enfim, objetos, coisas (mortas) e seus consumidores, usuários, compradores, sujeitos (vivos). O sujeito que deveria ser dono de seu destino é transformado em objeto, o ser virando coisa, a dita reificação e o objeto que deveria ser coisa passa a ser sujeito, o dito fetichismo. A coisa domina o ser e o ser vira um escravo da coisa.

Filosofia posta, voltemos ao meu café pequeno.

Ficamos escravos das modas, dos modelos, das marcas, dos carros, das roupas, das máquinas, dos tipos e, finalmente, os nossos sonhos de vida, sonhos de voar são transformados e reduzidos a pó, em pequeninos “sonhos de consumo”, nossos desejos aprisionados pela mediocridade.

Pra que servem todas estas modernidades eletrônicas? O que era “meio”, uma ponte de comunicação se transforma em “fim”. Quanta bobagem ouvimos e escrevemos, nesses aparelhos fantásticos que a inteligência humana criou. Quanto desperdício. Outro dia, ouvi dois homens conversando, durante uma hora e meia, sobre as qualidades dos seu celulares. Uma conversa vazia e tola. Não conversaram sobre suas vidas, seus problemas, suas existências. O importante era o poder do objeto. Era o ‘ter”. Eu tenho, tu tens, nós temos, portanto somos felizes.

As griffes sendo mostradas como “revelações”, epifanias salvadoras, como se fossem as descobertas para um mundo feliz. As roupas não são feitas para os nossos corpos, nossos corpos devem ser moldados para servir às roupas. Então, o que era para nos embelezar e proteger toma conta de corpos e almas.

As cabeças tão vivas das crianças estacionadas, por pais distantes e preguiçosos, nos games tão cheios de bala e sangue, nos orkuts tão cheios de nada.

Os carros vistos quase como deuses, totens, mais queridos do que a “mulher amada”. Parece que ninguém se lembra mais de que o carro é apenas um equipamento sobre rodas, um veículo, que nos leva de um lugar ao outro segundo as nossas necessidades. Quanto maior o carro, maior o meu orgulho. Uma espécie de lei da compensação entre o dono e o carro. E milhares de pessoas sendo mortas pela imprudência, pelos desesperados da velocidade.

Os televisores, estes incríveis eletrodomésticos, objetos do desejo, que podem nos mostrar, junto com os dvds a magia das imagens e das idéias e das artes e dos sonhos... Estão sendo usados pra ver o quê. Pra ver o lixo cultural e musical ou pra conhecer os talentos deste Brasil tão rico de talentos e do planeta cheio de criatividade, as ciências, as artes?

Neste computador tão velhinho, um “dinossauro”, como dizem os consumistas do último modelo lançado no Japão, estou aqui conversando com você, pensando alto, inquietando sua mente brilhante, trocando idéias, aprendendo, errando e sonhando... Aí, sim, está a beleza das coisas, os instrumentos para a criação e a liberdade de viajar, até mesmo, para outros mundos.

Eis, aí, a maravilha destas “coisas”: nos permitir voar...

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 06/05/2010
Código do texto: T2241327
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