ALEGRIA DE POBRE DURA POUCO!

Ôba! Brasília, lá vamos nós!

A “Agência” ficou em polvorosa. Tinha sido escolhida para ir participar do encontro nacional do Pró-infantil, na capital do Brasil. Dos nove integrantes, apenas um não iria. O motivo? Já tinha ido no início do ano. Bem, ir a Brasília requer, imagino, providências extras. Não é como ir ao centro da cidade, por exemplo. Precisa-se de levar roupas apropriadas, comprar “estojo*” novo, enfim, é como refazer o “enxoval” inteiro.

E assim foi feito. O corre-corre para as lojas do ramo foram frenéticos! Eu só via o entra-e-sai de sacolas e a troca de informações, entre elas: onde tinha um vestido lindo ou uma sandália maravilhosa. Parecia agência de moda. Todo dia era dia de desfile, de novidades.

- Menina, comprei uma bolsa chiquérrima para levar – dizia uma.

-Você viu os brincos que eu comprei para combinar com o vestido novo de balonê? – dizia outra.

- Eu já passei na “Aliança” e deixei reservada a metade da loja, arrematava outra, como não querendo ficar para trás.

- Como eu sei que vai estar frio nessa época, já comprei um sobretudo, do tipo “americano” de Hollywood, para “arrasar” nos dias de evento! – completava outra.

Eu, assistindo tudo aquilo, me arrepiei todo. Lembrei-me que o meu guarda-roupa estava depauperado de roupas adequadas para, por exemplo, ir à capital do país. Assim, temendo passar vergonha, eu “encomendei” à minha filha - e à esposa -, providências para a compra de vários “estojos”. Elas foram às compras. De noite, chegando do trabalho, a sala estava repleta de novidades.

- Paizinho (minha filha me chama assim. Lindo, não?), veja o que compramos! – disse ela com uma alegria imensa, me mostrando o resultado de seis horas, visitando as principais lojas e butiques do centro da cidade. Não sei o porquê, mas na hora que vi as compras, e a ouvi falar, o bolso doeu.

A minha esposa, alegre com o sucesso das compras, estampou uma camisa que tinha comprado, fazendo a maior propaganda da mesma:
- Esta aqui é especial! Não se amassa, é confortável e, além de tudo, é linda! Comprei cinco! – disse com um enorme sorriso no rosto. O bolso doeu um pouco mais.

- E o pulôver, o senhor viu? Com ele o senhor ficará bem agasalhado, tanto no avião quanto nos locais de evento, se intrometeu a minha filha, mostrando uma peça de lã, pesada, própria para o frio. Eu vesti. Em menos de trinta segundos, eu já estava suando. De fato, a peça era boa mesmo para se evitar o frio.

- Ah! Comprei uma mala nova, também. – já falou a minha esposa, não querendo ficar para trás nas novidades.

Olhei-a. Era enorme. Retruquei que, com uma mala daquelas, eu ia pagar por excesso de bagagem (cinco em uma) e de peso. Mas ela me convenceu que o tamanho era porque dentro dela tinha compartimentos para se colocar até sapatos, etc. e tal. Desta vez, o bolso pareceu se encolher de tanta dor.

E assim, cada uma delas foi me mostrando o que tinha comprado para “a viagem”. Eu fiquei assistindo ao desfile dos “estojos” sendo apresentados. Quando finalmente eu fui apresentado à conta do cartão, eu juro que, mesmo que estivesse fazendo dez graus negativos, eu não precisaria, nem de sobretudo, nem de pulôver, ou até mesmo de jaqueta de couro para o suor descer pela fronte. Uma cacetada! Mas, ir à Brasília merecia seus sacrifícios. Afinal de contas, eu precisava rever a cidade que eu conheci em 1978, quando ainda era preciso, para sair do país, um depósito compulsório (eu trabalhava com esportes e ia à Brasília para pegar o visto de isenção da taxa, para a equipe poder viajar para o exterior, sem onerar ainda mais seus custos).

Porém, tem um ditado que diz: “alegria de pobre dura pouco”. Pois é. Depois que todos da “Agência” já tinham comprometido os salários do mês, além de uma boa parte do futuro décimo terceiro e, até ter “limpado” a poupança, veio a terrível notícia: o evento tinha sido transferido de Brasília para Natal, numa data posterior. O resultado disso tudo foi:

Mala de viagem............................................. R$ 200,00 com o cartão de crédito;
05 camisas que não amassam....................... R$ 350,00 com o cartão de crédito;
02 calças jeans.............................................. R$ 180,00 com o cartão de crédito;
01 par de sapatos......................................... R$ 110,00 com o cartão de crédito;
01 pulôver.................................................... R$ 70,00 com o cartão de crédito;
01 mochila para Notebook.......................... R$ 80,00 com o cartão de crédito.

Moral da história: existem coisas que o dinheiro não compra, por exemplo, o sonho de uma viagem à Brasília. Para todas as outras, existe MasterCard.

*Estojo: conjunto de roupas.




 

Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 09/05/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2246291
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