ADJETIVOS PÁTRIOS

Uma amiga minha foi neste fim de semana para Frederico Westphalen, que fica em... em... peraí que eu vou pesquisar no Google... ah, sim, fica no Rio Grande do Sul, a 433 Km de Porto Alegre. Contudo, não é a distância da viagem, nem as condições do automóvel – se fez revisão, trocou óleo, alinhou, balanceou –, muito menos o clima frio que me preocupa. Nada disso. O que, realmente, me deixou angustiado quando ela me disse que ia para esta, creio, singela cidade foi o fato de não fazer a menor idéia de como se chama quem nasce em Frederico Westphalen.

É sério, pare para pensar: por que, diabos, alguém dá o nome de Frederico Westphalen a uma cidade? Certamente o Seu Frederico deve ter sido uma pessoa ilustre, mas não tem cabimento. A meu ver, a primeira coisa que se deve pensar na hora de escolher o nome da city é nos futuros cidadãos e em como eles serão chamados. Vejam, quem nasce em Curitiba é curitibano, e pronto. Não tem mais quê nem menos quê. Quem nasce em Palmeira, como este que vos fala, é palmeirense... e dá para ter alguma dúvida quanto a isso? Claro que não. Agora, Frederico Westphalen? Nem me arrisco.

O pior é que os fundadores já tinham exemplos de sobra, e exemplos famosos. Rio de Janeiro; o responsável por esse nome devia levar uns bons cascudos. Só que depois do decreto assinado, já era. E o que aconteceu, e o que aconteceu? Tiveram de inventar um adjetivo pátrio do nada pra salvar a situação. O escolhido foi... fluminense. O que, raios!, tem a ver fluminense com o focinho do porco? “Ah, Beto, Fluminense é o nome daquele time...” Eu sei, Zé, mas o Fluminense veio depois que já haviam decidido que quem nascesse no estado do Rio de Janeiro seria fluminense. Entendeu? Pior, não satisfeitos, deram o mesmo nome à capital. “Mas e aí, como diferenciar um do outro? Riodejaneirense? Ou tira o ‘D’? Riojaneirense...” Pelamordedeus! Não dá! E, pra melecar tudo de vez, a saída foi pior a emenda que o soneto: criaram o ‘carioca’. Vai ter criatividade assim lá na casa do chapéu.

Pelo visto, aqui no Brasil, parece que o povo gosta de imitar bizarrice. “Ai, vizinha, que nome você vai dar pro seu filho?” E a vizinha: “Maiquel Diéckson”. Pelas barbas! Se a inspiração ainda ficasse só numa das casas de maluco, mas, não, a turma é invejosa e copia mesmo. Se o filho duma é Maiquel Diéckson, o da outra vai ser o Miqui Diéguer. É, amigo, o buraco é bem mais embaixo. Ou mais em cima, já que não é só entre vizinhas a birra. A rapaziada de Santa Catarina, talvez incomodada com a “genialidade” dos “riojaneirenses”, ficou ali, pensando, pensando, e tascou um barriga-verde, sem dó. Como diria Jô Soares: “Me tira o tuuuubo!”

Barriga-verde em Santa Catarina; No Rio Grande do Norte, potiguar (juro, não há análise etimológica que dê jeito); no Espírito Santo, capixaba (vou cortar os pulsos...); Em Natal, pasmem!, o nego é chamado de papa-jerimum... Juro por Deus (seja lá qual deles você prefira), está lá no dicionário: Papa-jerimum. É ou não é dose pra cavalo?! E por aí vai, ladeira abaixo. Os únicos que conseguiram entortar o nome a ponto de manter a derivação na linha do original foram os florianopolitanos, hehehe. Fale três vezes, bem rápido, florianopolitano, florianopolitano, florianopolitano... Fácil, né? Sem contar que é muito bonito. Tão bonito que os baianos de Salvador não resistiram e, na maior cara-de-pau, mandaram essa: soteropolitano.

Olha, posso ficar aqui por horas nesse vai-num-vai com nossos adjetivos pátrios; contudo, isso não resolveria a questão primordial: como, céus!, se chama quem nasce em Frederico Westphalen? Bom, só esperando minha amiga voltar para descobrir. Incumbi-a dessa missão impossível – Não no que se refere à descoberta, mas, sim, no que diz respeito a decorar o dito palavrão que deve pintar o improvável adjetivo. E isso que eu nem questionei os nascidos em Xique-Xique (BA), Venha-Ver (RN), Varre e Sai (RJ), Sério (RS), Sem Peixe (MG), Passa Tempo (MG), Passa e Fica (RN), Boa Hora (PI), Peixe-Boi (PA), Não-Me-Toque (RS)..