Ditadura da ignorância

A arrogância é a arma dos tolos e a irmã predileta da ignorância. Dito isto, vamos ao café pequeno.

Em outros tempos, ficávamos ouvindo os mais velhos, os mais cultos, que tinham mais formação e informação, para ficarmos antenados com o mundo e ampliando nossos horizontes. Sabíamos que ouvir era a maior virtude. A possibilidade de aprender era quase uma dádiva.

Não importavam os diplomas ou a falta deles. Sabíamos quem era sábio e tinha algo a nos ensinar, ainda tínhamos esta capacidade – perceber o outro e aprender com ele. Quanto aprendi com meu pai e seus amigos, com meus irmãos e seus amigos. Além dos livros, claro, fundamentais na vida de qualquer ser humano. Sem esquecer jamais os professores dedicados que tanto nos ensinaram.

Hoje, qualquer zé ou maria ninguém se arvora, nem bem sentou num banquinho universitário, a dar “aulinha pessoal” sobre todas as ciências e artes, menosprezando experiências e conhecimentos.

O Monteiro Lobato já dizia que a pior doença é a ignorância, porque não causa dor, portanto o doente não procura salvação.

Porém, o problema não termina aí. Houve uma inversão: antes, os sábios distribuíam seu conhecimento aos incultos, de Sócrates nas praças de Atenas (por suas idéias, foi condenado a morrer envenenado) ao Darcy Ribeiro (que amargou um longo exílio, por suas idéias), agora, os incultos, os ignorantes, os pobres de espírito e talento estão “aculturando” aqueles de “deveriam” ser a “elite intelectual e artística”, que tiveram condições de crescer culturalmente, boas escolas e grandes possibilidades. A maioria, saída destas fileiras, está discutindo psicologia do comportamento no miado da cachorra ou em qualquer casa noturna de gosto duvidoso, aprendendo justiça e direito à beira da delinqüência, praticando dança e estudando música com bimbinha e solelma, coturno e torrone, rico e rone., molejos e moleques, soutiens pretos e outros lixos. Aprendendo ética e honra com a bandidagem, sociologia com garotas de programa e medicina no veleiro sertanejo.

Que saudade dos estudantes que eram rebeldes e ouviam Ivan Lins, Milton Nascimento, Caetano, Chico Buarque. Que saudade dos estudantes que admiravam, Jack Nicholson, de Niro, Al Pacino e não silvestre está longe, chuasembrega, que assistiam tv Cultura e programas alternativos, agora assistem zona fecal, descontrole, tutu aprisionado, saulão e sabadinhos. Que liam Rubem fonseca, Ignácio Loyola, João Antônio, agora lêem paulinhos cordeiros e acham que estão descobrindo o mundo.

“O que foi que aconteceu com a juventude brasileira?”, parafraseando a Rita Lee.

Está instalada a ditadura da ignorância. Quem está certo está errado, os ignorantes determinam o que você deve ouvir, o senso comum e a vulgaridade viraram ciência, o péssimo gosto virou padrão de beleza. Estamos perdidos e mal pagos.

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 11/05/2010
Código do texto: T2250316
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