Ai, a felicidade, onde está?

Tem um momento em que você já contou todas as histórias e todas as piadas. Então você começa a ser repetitivo.E, o que é pior, a tua memória te trai e já não sabes mais o que você contou, ou para quem contou.

O negócio dos shows só sobrevive porque, como se diz naquele ambiente, nasce um otário ‘a cada segundo. è só ver a lista das maiores bilheterias dos filmes de Hollywood, para confirmar. Para esses vocês podem contar qualquer história, porque eles não sabem de nada e acham graça em qualquer coisa, e caem em qualquer conto do vigário.

Mas, uma história real, dessas que diz respeito a todo o mundo, precisa ser contada e recontada para que se conserve alguma coisa de humano entre as gerações.

Afinal, o que é isso, ser um ser humano?

Talvez seja, apenas, poder contar uma história que toque aos corações das pessoas, talvez seja queimar energia aos borbotões se aproveitando da enorme generosidade com que a natureza trata as coisas energéticas, talvez seja apertar botões mágicos que fazem as ilusões acontecer, talvez seja apenas sofrer, talvez seja ignorar o sofrimento.

Cuidar da prole, não é propriamente humano, isso os animais fazem. Apropriar-se de territórios, acumular bens, enfeitar-se, perfumar-se, cuidar dos idosos, enterrar os mortos, guerrear, combater doenças, comunicar-se, trabalhar? Os animais fazem tudo isso.

Os principais problemas dos humanos não diferem muito dos problemas dos animais, e nem se pode dizer que somos a espécie mais bem sucedida do planeta. As amebas estão por aí há milhões de anos, muito bem, obrigado, vivendo e sobrevivendo todo esse tempo.

Mas não se fazem histórias para as amebas, elas sequer se reconhecem, nem têm vida sexuada, logo um conto de amor é impossível para elas. As histórias são feitas para pessoas, como uma forma de fazê-las sentir as misérias e alegrias por que passamos. Talvez elas consigam impedir, evitar, se preparar para essas misérias, viver uma vida digna e boa, ou melhor, do que a nossa, o que, com certeza não ocorrerá somente pela via do progresso e da evolução social e material.

Estou convencido de que é melhor entrar no mundo dos humanos sem fantasias: não há mais nenhuma América para ser descoberta. É melhor levar a vida como uma obrigação, um dever. Digam-me as coisas chatas que tenho que fazer hoje, e eu as farei correndo, para voltar a dormir.

E, assim os dias passam, neste mundo de obrigações, que mesmo sem fantasias, nos perguntamos: aí, meu Deus, a felicidade, onde está?, pergunta que não tem resposta.

Talvez esteja nas histórias que vocês nos contam, talvez esteja nesse momento.