A FÓRMULA DO AMOR

No finalzinho dos anos oitenta, quando dava gosto e emoção acompanhar as corridas de Fórmula Um - e o carro amarelo-e-azul era dirigido por ninguém menos que o genial e genioso Nelson Piquet; e a máquina vermelha-e-branca pilotada por outra lenda viva, que atendia pelo nome de Ayrton Senna - fomos uma caravana de bom-despachenses até o Autódromo de Jacarepaguá, ou mais precisamente ao Rio de Janeiro.

Éramos o Alemão da Retífica, o Wilson fotógrafo, meu colega de serviço Beto, e eu. Foi minha primeira visita à Cidade Maravilhosa! Por isto mesmo, como bons mineiros que não perdem o trem, no sábado, véspera da corrida, já estávamos hospedados num hotel, de frente pro mar! O Wilson, com aquela mania de tirar retratos, só queria saber de pontos turísticos, estátuas e museus. O Alemão e eu nos contentamos em estacionar os esqueletos e banhas nas areias de Copacabana, ou mais exatamente sob a barraca de uma baiana que vendia a tal cerveja Bohemia. Depois de saborear outras bem mais do que umas, embalados, simpáticos pra dedéu, tirando onda de mineirinhos-podres-de-ricos arrematamos o estabelecimento, isto é, reservamos só para nós dois todo seus estoque de bebidas e tira-gostos.

Não me recordo em que condições voltamos, ou fomos levados de volta pro hotel. Quando dei por mim, meu colega me empurrava para debaixo de uma ducha gelada. Logo eu, que sou alérgico a água fria!... Saindo à tarde o Beto comprara dois ingressos para um show do cantor Wando (aquele!), e não sei por que estranha razão cismou em me ter por companheiro de esbórnia. Misericórdia! O que um cara metido a intelectual, colecionador dos discos da banda Legião Urbana, sabendo até as letras das músicas de cor, vai fazer no show deste animador de cabaré?

Por A mais B fui convencido de que me comportava como outro destes preconceituosos baratos e desinformados; enfim, lá fomos nós! Enquanto estávamos na fila para entrar no Teatro dos Arcos fizemos amizade com duas lindas turistas venezuelanas (o país da misses!), e dali pra frente comecei a achar que tinha ido ao lugar certo, pela simples razão de que quando nosso portunhol não era bastante para a comunicação “ Me gustas, você?” – a gente se entendia melhor ainda pelas chamadas vias de fato...

Entre um bloco e outro de músicas o cantor animava a platéia fazendo sorteios de kits com ervas afrodisíacas, sachês de perfumes eróticos, calcinhas em variadas cores, formas e cheiros! Ao término da apresentação, Wando sorteou o pacote especial: um fim-de-noite em motel da Barra, com todas as despesas pagas! Adivinha, invejoso leitor, se quem enfileira estas mal-traçadas linhas não foi o felizardo? Antes de decidir se “usava” o prêmio - a gringa toparia ir de táxi pro motel? -, fui interpelado por um vizinho de mesa me propondo que negociasse o prêmio com ele, a troco de boa grana.

Finalmente de volta ao quarto do hotel Beto e eu encontramos o Wilson, ainda acordado, regulando suas câmeras e objetivas para fotografar a corrida no dia seguinte. Ao saber por onde foram nossas andanças, ele quase caiu duro pra trás. E nos chamando de irresponsáveis, malucos, pervertidos... nos contou que a Lapa, local do show, era reduto da malandragem carioca mais barra-pesada, e que por pura sorte não tínhamos sido assaltados, sequestrados, essas tragédias todas. Quem vai se preocupar com detalhes tão desagradáveis, na primeira viagem à Cidade Maravilhosa?

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 20/05/2010
Reeditado em 31/03/2012
Código do texto: T2268788