Estatísticas

(Texto em homenagem ao primeiro ano de Exercício Criativo - EC - do Recanto das Letras)

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Foram 35 temas, 35 bolos. De todos experimentei o sabor, mas só em 21 deles eu efetivamente contribuí com algum ingrediente. Ou seja, 14 ficaram, de minha parte, no limbo das idéias não materializadas. Contabilizemos os motivos: três deles foram solenemente esquecidos, embolados na confusão das tantas tarefas a serem cumpridas diariamente ou perdidos no éter virtual de e-mails não lidos; outros quatro surgiram numa época difícil em termos emocionais, quando preferi evitar cair no lugar comum ao expressar sentimentos banalizados que nada trariam a quem os lesse: entendia que, enquanto não conseguisse exorcizar meus fantasmas, não me julgava no direito de assombrar ninguém. Quando a luz voltou, nem sempre o trabalho e os estudos me facilitaram as coisas, e em mais cinco ocasiões não consegui dispor do tempo necessário para escrever algo que valesse a pena. E por duas vezes, confesso, não tive o mais vago lampejo de criatividade que me fizesse expor algo de que me orgulhasse. Faltou o toque de sabor para não produzir um bolo insosso.

Todos os temas propostos nesse jogo inteligente que há um ano vivenciamos, compartilhado por gente especial que brilha nas palavras, foram de altíssimo nível. E, dos 21 que tive o privilégio de participar, dois deles me foram tão agradáveis que acabaram gerando dois filhos cada. Dos dezenove restantes, quatro foram textos de humor, cinco foram contos, sete crônicas (quatro delas incluídas na série Ditados na Berlinda) , duas poesias (uma foi em parceria, a outra uma porcaria) e uma prosa poética.

Bem, as estatísticas estão completas. Mas falta interpretá-las. Poderia dizer daqueles textos que fluíram de minha mente como água da torneira, em grande vazão e sem contenção; dos que me tomaram um tempo razoável e alguns rascunhos; dos que dediquei a alguém, dos que gostaria que lessem, dos que poderiam ser ignorados... Mas acontece que não sei falar de minhas crias, com a óbvia exceção de meus filhos - de quem posso falar por horas com o mesmo brilho nos olhos. Apenas estas criações são perfeitas, e humildemente divido os louros com meu parceiro. Todo o resto são experimentos individuais que não merecem tantas atenções.

Porém aprendi, neste exercício particularmente interessante (e, para mim, inusitadamente útil) de produzir por encomenda, que é muito diferente escrever o que vem à cabeça quando se tem vontade e disposição do que quando se tem um tema previamente definido: as coisas são facilitadas ou complicadas, dependendo do casamento momentâneo entre a encomenda e o material de que se dispõe. Quando se precisa fazer um bolo e não se tem farinha nem açúcar, a criatividade ao executá-lo deve ser multiplicada por mil, mas o resultado nem sempre é, de fato, um bolo como o conhecemos. Há que se ter criatividade também para saboreá-lo.

Para finalizar, gostaria de poder tecer comentários sobre os textos de meus colegas que mais me tocaram, mas julgo uma tarefa impossível. Primeiro, por terem sido bastante numerosos, um sem número de belíssimos e atraentes doces expostos na vitrine; segundo, porque cometer uma injustiça seria tão fácil como fazer um bolo desses prontos, aos quais se junta apenas leite; e, por fim, porque minha memória pouco prodigiosa me impede de agora voltar a localizá-los – ficou apenas o sabor, o aroma, uma boa lembrança. Só me resta então agradecer e apagar as velinhas com meus queridos e talentosíssimos colegas para cortarmos juntos mais este bolo, fazendo um desejo especial: que continuemos para, quem sabe, produzir algo palpável num futuro não muito distante – quiçá um livro, com deliciosas fatias que pudessem ser infinitamente repartidas?...

Fica a idéia, meu agradecimento e meu carinho a todos.

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Parabéns a todos os colegas encantistas! Saibam mais e conheçam os outros textos no link do Encanto das Letras - Exercicios Criativos:

http://www.encantodasletras.50webs.com/umano.htm