Lopão e Lopinho - Parte I

Minha terra, nossa gente e sua historia.

“Lopão e Lopinho”

Parte I

Dois religiosos que marcaram época na velha Itabira: José Lopes dos Santos (Padre Lopão) e José Lopes de Magalhães (Padre Lopinho). Lopão era um homem forte, alto moreno, severo, falava alto, cativava muitas pessoas, mas afastava outras por causa do seu temperamento explosivo. Lopinho, homem baixinho, franzino, branco, calmo, voz branda.

Lopão era responsável pela Paróquia do Rosário, Lopinho pela Paróquia da Saúde. Sacerdotes vocacionados e zelosos com a doutrina da Igreja em seu tempo.

Neste artigo quero relembrar um pouco do nosso saudoso Monsenhor José Lopes dos Santos, “o Lopão”. O Padre José Lopes dos Santos chegou a Itabira em 06 de julho de 1946 quando da divisão da cidade em duas paróquias. Veio em substituição a um Padre que tomaria posse, mas por motivo de doença ficou impossibilitado de assumir. A recomendação do Bispo de Mariana era severa, queria um relatório de tudo que acontecia aqui em Itabira.

A fama de rebeldia do povo da cidade em obedecer às ordens impostas pela Igreja era comentada por toda região. Êta povo desobediente! A missão do padre era árdua. Foi um grande desafio!

Lopão assumiu a Paróquia do Rosário. Foi Capelão do Colégio Nossa Senhora das Dores, Professor e Diretor do EEMZA. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade Oeste de Minas na cidade de Divinópolis. Gostava de conversar com os amigos, contar piadas, jogar baralho, beber moderadamente um bom whisky. Não dispensava um revolver 38 debaixo da batina preta e manejava-o com muita destreza. Torcedor fanático do Valeriodoce, não perdia uma só partida. Devido ao seu comportamento explosivo, era temido por muitos, principalmente por nós, meninos. Andava sempre acompanhado de seu cão “Golias,” um animal bravo e assustador.

Com a mudança da minha família do Bairro Pará, para o Campestre, passamos a pertencer a Paróquia do Rosário. Lembro-me da dificuldade que eu tinha no momento da confissão. Na Semana santa, era aquele alivio, pois havia a opção de se confessar com outro Padre que chegava na cidade por ocasião dos festejos. A fila do confessionário do Lopão sempre era pequena. Só alguns meninos ousados enfrentavam o desafio traumático da confessar com ele. Já a fila de confessionário do Padre visitante dava volta atrás da Matriz.

De vez em quando Lopão se estressava. Esta era uma hora desesperadora, pois ele exigia que entrássemos na fila do seu confessionário. O seu grito ecoava por toda a Matriz: Acaso sou um bicho? Sou um monstro? E nós, tremíamos de pavor! Muitos voltavam para casa prometendo nunca mais freqüentar à Igreja. Era um problemão que arranjávamos para nossas mães.

Certo dia, inesperadamente, Lopão saiu do confessionário e resolveu perguntar pra cada menino o nome das imagens dos santos que estavam expostos nos altares da Matriz. Foi um Deus nos acuda, uma correria dentro da Matriz! O medo foi tanto que tremíamos como vara verde. Um por um, era colocados em frente ao altar. Tínhamos que dizer o nome de cada uma das imagens. Meu Deus que provação! Assim que chegou a vez do Vicente, filho de Dona Raimunda lavadeira, moradora do Acampamento de Capim, aí é que a coisa ficou preta. Vicente era um menino muito desleixado, e bem tapado, coitado! Não dava importância alguma ao sagrado. O Padre lhe perguntou bem alto: “Vicente, como chama este Santo? ”Vicente estava diante da imagem de Jesus crucificado e respondeu com toda simplicidade: “Padre, aquele é São José do quarto escuro”. E Lopão gritou bem alto: “Burro, ignorante, quem lhe disse que aquele é José? Ainda mais do quarto escuro! José do quarto escuro está lá na sacristia da Igrejinha do Campestre. Você não sabe que aquele é Jesus? Será possível que Raimunda não lhe ensinou?” Pobre Vicente, quase apanhou, nunca mais voltou à Igreja.

Certo dia, aproveitando o seu bom humor, pedimos que nos deixasse subir na torre esquerda da Matriz para ajudar o sacristão a bater os sinos menores. Ele deixou, mas com muita recomendação. Disse pra termos cuidado ao descer as escadas que eram em circulo e com muitos degraus, pra não fazermos barulho ao descer, pra termos cuidado com as janelas altas, recomendou que ninguém mexesse nos ninhos das andorinhas da torre e que não fizéssemos bagunça com os sinos. Assim que chegamos à sala dos sinos, foi àquela algazarra e nos esquecemos de todas as recomendações. Fizemos tudo ao contrario! O Padre chegou à sacada da casa Paroquial aos berros e fez questão de nos receber nos pés da escadaria da torre. Recebemos doloridos beliscões naquele dia! Nunca mais voltamos à torre.

Marconi Ferreira
Enviado por Marconi Ferreira em 24/05/2010
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