O ÚLTIMO VIRGEM

No passeio da Speed Burger - amigo Abílio, como o sugestivo nome da sua pizzaria me faz viajar na maionese... Embora pouco tenha passado pra lá de Belo Horizonte, por vezes me pego vagando pelas praias da ensolarada Califórnia, em pelos unait steits, ouvindo Creedence... Bem, eu dizia: no passeio da Pizzaria Speed Burger existe uma árvore, que neste início de primavera foi escolhida por um casal de “verdadeiras” para abrigar-lhes o ninho.

Garante meu primo Guilito, com a experiência de quem conhece mais a alma dos pássaros que a das pessoas, que o nome desta pomba selvagem não é gratuito. Segundo ele, uma vez acasaladas, elas jamais se separam. Quando, por desventura, uma pedrada de estilingue, uma bala, alguma ave de rapina rompe seu juramento tácito de fidelidade, o cônjuge sobrevivente não procura nova companhia. Quem sou eu para duvidar do Guilito? Mas, a bem da verdade, nunca vi bicho mais agressivo na hora do amor. Se batem com as asas, urram, dão bicadas, penas voam... até que a fêmea cede aos encantos (ou à força?) do macho. Ou seria o contrário?

Isto tudo me fez recordar uma das preocupações da minha turma, nos tempos de rapaz, quanto à expectativa da primeira vez! O simples fato de se chegar virgem à época de servir o Tiro-de-Guerra, significava crime de lesa-pátria. Dos colegas atiradores, só o Dazinho (com este nome...) ganhou sua farda de “periquito”, ainda invicto, ou sem ter desfrutado, melhor dizendo, o lado alegre da vida. Nós outros não nos conformávamos. De maneira que tramamos, numa madrugada quando juntos tirávamos guarda no TG, que daquela data ele não passaria. Entusiasmando o “noivo” com doses caprichadas de rum, fizemos uma vaquinha conseguindo, enfim, colocá-lo na cama de uma ruiva caliente, na Rua da Garça, antiga zona boêmia de Bom Despacho.

O Dazinho no quarto com a mulher, e nós na sala disputando cerveja na purrinha. Para realçar o clima a dama colocou no toca-disco a música que Serge Gainsbourg compôs para Brigitte Bardot - interpretada pela Jane Birkin -, e onde a cantora entoa o orgasmo mais sonoro da história “J’ai t’aime moi non plus”! Algo que nas aulas de francês, com o estimado professor Calais (Calé), um arrebatado aluno traduzia fácil por “Te amo além do possível”. Tudo a ver!

Ao final da “canção” foi a própria ruiva quem iniciou seu ciclo de urros eróticos. Sem aguentar de curiosidade escalamos a parede, que não chegava ao teto da casa. Sozinha na cama a mulher simulava a farra, enquanto numa cadeira, ao canto do cômodo, o Dazinho fingia ler – com enfado – uma revista de fotonovelas, sem ter ao menos tirado a farda e os bute-butes! Malogrados, no caminho de volta para a sede do Tiro-de-Guerra, obrigamos o último virgem a nos revelar como conseguira a façanha, enganando a gente. Aí, sem maiores pudores - diplomata - ele nos confessou que para não ser incomodado, simplesmente pagara à mulher o dobro que nós! Dizem as más línguas, entre outras coisas, que o Dazinho continua invicto até os dias de hoje. Mas o povo de Bom Despacho, às vezes, fala demais...

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 25/05/2010
Reeditado em 08/01/2011
Código do texto: T2279030