Dá licença: eu quero ler!

Acordo todos os dias meio sonada. Após o café faço as coisas que não precisam de muita atenção. Reservo à tarde para lidar com minúcias.

Hoje, não vejo a hora de começar a ler aquele livro.

Ao preparar a refeição da família, já estou bem acordada. Então, tomo banho pra ficar livre dos odores da cozinha e visto a minha roupa de intelectual. Esta é a parte do dia que eu mais aprecio.

Na mesinha da sala me aguarda o livro que desejo começar a ler.

O telefone fixo toca e, a seguir o celular. Alguém à porta não para de tocar a campainha - logo hoje que estou sozinha e quero ler aquele livro.

Outra vez o telefone. Alguém precisa conversar e virá após o almoço.

A conversa rende mais que o esperado.

De vez em quando acaricio o livro ao meu lado...

A visita se vai, o filho chega, liga a TV e começa a torcer por seu time.

No intervalo dão notícias da Copa que ele aposta ser uma festa.

Quero ler...

_Cadê os meus óculos?

Sem me olhar, ele responde: “Estão na sua testa”. Ele me sorri de um jeito enigmático...

Desisto de responder: Acho mais prático me calar.

O marido abre o jornal e as manchetes me atraem mais que o normal.

Quero ler o meu livro, mas preciso das informações do dia.

Jantar? Eu esqueci que comemos.

Preparo sanduíches...

Estou sem apetite.

Quero ler o jornal, e o livro.

O marido liga o computador e anuncia: tem gente pedindo respostas.

Eu não gostaria de ver isso agora, mas ele aposta que são importantes.

Quero ler o livro, o jornal e os e-mails.

Descubro que pra dar conta de tudo que preciso e aprecio, eu teria que ser hiperativa. Mas isso é doença passível de tratamento.

É quase meia noite: ainda dá tempo; abro finalmente o meu livro e, sobre ele adormeço.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 31/05/2010
Código do texto: T2291015
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