NEM FREUD EXPLICA

Algum tempo atrás, ao iniciar a publicação destas crônicas temerárias, dizia eu que me dava por satisfeito sabendo que era acompanhado por quatro ou cinco velhinhos da terceira-idade (saudosos de quando as coisas abaixo da cintura funcionavam). A melhor coisa para quem escreve, é ser lido! Eufórico, hoje - velejando por mares nunca d’antes navegados -, posso afirmar de peito estufado que, a considerar o nível das algaravias lidas aqui, meus leitores já lotam uma Kombi!

Como vantagem adicional, ou bônus, este cantinho no Recanto me proporciona oportunidade para praticar uma heresia psicanalítica, qual seja, ao escrever estou exorcizando meus demônios, de certa maneira fazendo auto-análise, se é que isto existe. Sem contar que, ao não me reclinar no confortável divã de algum discípulo do antigo fauno de Viena, economizo boa grana para as louras-geladas! E, pois, neste clima de oba-oba, de já-ganhou, de alto-astral, eu não poderia senão falar delas! Ah, quisera que da lavra deste cronistazinho destrambelhado se garimpasse ainda uma louvação merecida às mulheres de Bom Despacho.

Relevem meu bairrismo, circunspectos leitores, mas desconheço outra cidade que tenha tantas mulheres bonitas, por metro quadrado! Em caso de dúvida é só dar uma voltinha por nossas ruas e praças, de olhos aberto e o coração ao vento. De uns tempos para cá, com a instalação do Campus da Unipac, virou covardia! Não fossem já inumeráveis as deusas locais, todas as tardes ônibus e mais ônibus desembarcam na Cidade dos Cristais outra seleção de beldades. “- Uma boa aparência garante meio gabarito antecipado na prova! Sem contar que beleza é quesito com peso dobrado, na hora de desempate...” ouvi de uma garota reprovada no vestibular, obviamente desprovida de atributos para figurar no poster central da Playbpoy!

Ontem, na Praça da Matriz, quando me dirigia para a caminhada vespertina, cruzei com uma destas Afrodites. Vou mandar celebrar dez missas na intenção do estilista, que primeiro combinou calça de cintura baixa com mini-blusa! Partindo do umbigo enfeitado por um piercing, descia-lhe rumo ao zíper algo como que ínfima lanugem, naturalmente descolorida, capaz de levar qualquer cristão ao pecado! Vista de costas - porque todo brasileiro é fissurado em bumbum feminino -, a tentação era ainda maior: duas sereias azuis estrategicamente tatuadas nadando naquelas covinhas, acima dos glúteos, pareciam me piscar lascivas . Não foi à toa que Deus fez por último a mulher. Antes era tudo rascunho.

Depois de Bom Despacho, talvez só o Rio de Janeiro tenha tanta mulher bonita junta. O que falta à nossa cidade é um Vinicius de Moraes, para cantar nossas beldades. Até que surja um poeta à altura, vou surrupiando do “poetinha” seus versos imortais: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa, num doce balanço, caminho do mar... Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema, o seu balançado é mais que um poema, é a coisa mais linda que eu já vi passar...” Há quem não goste de poesia; e, pior: quem não aprecie as musas... “- Mas aí, nem eu explico!". Pelo sotaque reconheci lamentar de além-túmulo, o velho íncubo austríaco, mordiscando malicioso a ponta do seu fálico charuto.

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 31/05/2010
Reeditado em 06/05/2011
Código do texto: T2291523