LEMBRANÇAS

A noite já se avizinhava!

Sozinho no quarto daquele apartamento, o homem observava os primeiros pingos da chuva baterem no vidro da janela.

Pensou no que fazer para preencher o tempo. Nada lhe vinha à mente. Ligou o rádio e a música que tocava lhe deixou mais triste ainda: falava sobre a mulher ideal, sobre uma cumplice que todo homem almeja ter.

O silêncio da solidão já incomodava. Dirigiu-se ao quarto, abriu a gaveta da cômoda que sempre se encontra ao lado da cama. Dela, retirou alguns envelopes, de várias cores, de vários tamanhos. Eram cartões que ela lhe enviara por várias ocasiões, durante a convivência em comum.

Um por um, e em ordem cronologica de data, abriu os envelopes e leu os cartões. Dedicatórias que traduziam o amor que ela dizia sentir por ele: de paixão, de desejo, de querer eterno. Dedicatórias nas quais ela dizia que su'alma estava aquietada, depois que o conhecera, que finalmente ela encontrara o côncavo do seu convexo, o seu outro lado da moeda, o seu caminho seguro, a sua trilha certa, a sua brisa suave... Dedicatórias em que ela agradecia a Deus por ter colocado ele no caminho dela, que ele era o sol que há muito ela procurara, que lhe dava luz e calor...

Não aguentou ler mais aqueles cartões. Dirigiu-se à sacada do quarto, ignorou a chuva miúda que teimava em cair. Deixou os pingos banharem seu rosto, misturando-se com as lágrimas que teimavam em chegar à borda de seus olhos e rolar pelas suas faces abaixo...

Ficou ali parado por alguns instantes, até que a chuva miúda, com pena de seu sofrimento começou a ir embora.

O homem entrou, fechou a porta da sacada, serrou as cortinas...

Trocou de roupa, vestiu um pijama, deitou, soltou um profundo suspiro, apagou a luz do abajour e dormiu...

Lá fora, a chuva miúda deu lugar a uma lua cheia, brilhante, maravilhosa, esplendorosa...