DE REPENTE, CAMPINAS

De repente, sozinha, com seis pequenos à minha volta.

Para onde ir? O que fazer, viúva e só?

Era premente sair da Capital. Lá não haveria jeito de criar sozinha esses meninos.

Voltar para Minas? Os parentes estavam lá, poderiam até ajudar, mas poderiam também atrapalhar porque eu tinha um jeito todo meu de encarar a educação deles.

O jeito era ficar no meio do caminho. Não bem no meio na medida da distância, mas entre uma cidade e outra. Longe o bastante da Capital frenética e, de certa forma, perto da cidadezinha modorrenta.

Já tinha vindo algumas vezes a Campinas com amigos. Vinha num dia, voltava em outro. A Litorina estava lá pra me levar na ida e na volta. Pontualíssima, asseada e confortável. Pra quem não conhece, a Litorina era um comboio na via férrea que passava por Campinas e ia até Santos, no litoral. Daí, o nome.

Resolvi vir para cá.

Abençoada hora!

Levei os meninos para Minas e pedi à minha Tia que tomasse conta deles. Voltei, arrumei casa, escolas, uniformes, fiz a mudança, abasteci a casa e fui buscar os pequenos.

Isso foi por volta de 1970!

Começamos uma vida nova, novíssima! Tão novíssima, que também eu voltei para a escola. Fiz o vestibular e passei na PUCC.

Esse foi um começo de vida de uma família numerosa, que buscou em Campinas o abrigo, a segurança, a cultura, o laser e tanta coisa mais!

Essa Campinas, que me deu crédito para a compra de seis pares de sapatos sem me conhecer, sabendo apenas que eu era também uma imigrante. Essa Campinas que não me exigiu fiador para alugar casa. Confiaram em mim!

Essa Campinas, que deu aos meus pequenos as escolas que eles precisavam, desde o pré-primário até o ginásio! Depois, o segundo grau e por último a faculdade para eles e para mim.

Essa cidade de clima bom, bons ventos, chuva fertilizante, friozinho para variar. Clima que não assusta com mudanças bruscas de temperatura. Em São Paulo, viviam de narizinho escorrendo.

Há 40 anos, portanto, eu usufruo de tudo de bom que esta cidade tem. E a cada dia ela melhora mais.

Conservo as expressões regionais de uma boa mineira em meu linguajar cotidiano. O “uai” e o “trem” ainda fazem parte do meu dia a dia. Mas evolui em nossa Língua Portuguesa, que “... És, a um só tempo, esplendor e sepultura”... Como disse o poeta Olavo Bilac.

Atualmente, estou só, mas à minha volta pululam os netos, bisneta e os filhos que se fizeram nesta terra de oportunidades.

Somos todos muito agradecidos por tudo o que tivemos aqui, pelo que recebemos de bom, pelas oportunidades e bem viver.

Esta crônica despretensiosa é um agradecimento a CAMPINAS como um todo, clima, povo, escolas de todos os graus, comércio e indústria, oportunidades de trabalho, atrativos, parques, a cultura que rola primorosa e tudo mais! É tanta coisa!

Obrigada, Campinas, por fazer feliz a toda minha família!

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 07/06/2010
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