Numa batida que não é a do samba.

Acabo de ler um artigo, publicado pela Universidade da Carolina, sobre a diminuição do batimento cardíaco e também a da pressão arterial que ocorrem quando amantes estão em contato, um contra outro, abraçados, ou simplesmente de mãos dadas. O que é realmente uma peculiar estratégia da natureza para a aproximação entre os seres. Então, o amor realmente pode promover um bem-estar ainda muito pouco conhecido, pouco mensurado, se bem que essas verdades já foram vistas e revistas, e ainda exaustivamente reconhecidas, e ainda mais insistentemente perseguidas por artistas, poetas e pelo homem comum. Enquadro-me na última categoria, a do homem comum, o que também é um alento, já que tudo converge para que sintamos o amor no cotidiano, pois, de outra maneira, o que me importaria a sua nobreza se dela não pudesse, ao menos, sentir esse estado em que a vida se desacelera em movimento de cálido torpor. Bom, longe dos poetas, o que nos resta talvez seja apenas um cotidiano às vezes apressado, e que em outras vezes também bate em ritmo acelerado. Poderia, então, imaginar a possibilidade de viver um cotidiano ao lado de alguém, e depois de um dia de batidas intermitentes e estéreis, ter a grata sensação de sentir mansamente uma respiração adormecer em meus braços. Aí, entre um abraço e outro, talvez as batidas do meu coração diminuíssem, mas não a ponto de parar, é lógico. Afinal, se não for a batida do amor, ainda nos resta a batida cadenciada do samba.

Carlos Magni
Enviado por Carlos Magni em 02/09/2006
Reeditado em 02/09/2006
Código do texto: T231026