JOÃO E MARIA NA ATUALIDADE

Em uma casa de pau, situada à periferia de uma determinada cidade, moravam uma família de trambiqueiros, “Cara-de-Litro”, o pai cachaceiro, “Santa Chimboquinha”, a amante numero um do pai, “João Tunegas”, o trombadinha e “Maria Chorona” a irmã mais nova. Ah, estava esquecendo-me da madrasta, essa sim deveria ser chamada de santa, pra agüentar esta família só mesmo ela.

João Tunegas era um “rato”, sempre que queria comer alguma coisa diferente ia à feira e lá afanava o que queria. Certo dia seu vizinho, que há muito tempo percebia o desaparecimento de algumas de suas galinhas, o pegou no flagra e o levou ao pai para que este o corrigisse.

- Sr. Cara-de-Litro – disse o vizinho, nervoso- seu filho está roubando minhas galinhas e hoje o pegue com a boca-na-botija!

- Este homem diz a verdade? Tunegas!! – disse o pai, que neste raro momento estava sóbrio.

- Não, pai, eu estava levando a galinha pra ele. Ela tinha fugido – disse o sínico.

- Tunegas, olha que te dou uma surra.

- É verdade, pai.

A história ficou por isso mesmo, cada vez que o pai gritava seu nome o menino negava.

Um belo dia, quando o saldo do Bolsa-qualquer-coisa zerou, a madrasta disse ao marido “Cara-de-Litro” que as coisas estavam ficando feias e a única solução era abandonar os dois pequenos no centro da cidade. Ele, ébrio, concordou.

No dia seguinte saíram os quatro, voltaram pra casa apenas os adultos. No outro dia, para surpresa dos dois, os pequenos chegam em casa, no carro do conselho tutelar de banho tomado e comido, quer dizer, já havia comido alguma coisa.

Mas a madrasta não ficou nada, nada satisfeita, e os levaram para um município vizinho e lá os abandonou.

João Tunegas, menino esperto, encontrou uma casa com um pomar repleto de frutas, e não pensou duas vezes para saqueiá-lo. Maria Chorona fez o que mais sabia fazer: chorou.

A senhora que morava na casa comovida pelo choro da menina e ao saber da triste história deles, os acolheu em sua casa oferecendo-lhes comida, camas confortáveis...

João Tunegas que já entrara na puberdade, começou a se insinuar para a senhora que, viúva há duas décadas, não resistiu. Reza a lenda que ela o visitava todos os dias e dava uma pegadinha no “dedo” dele para ver se estava bem de saúde.

Após alguns dias, cansados dessa vida - Maria Chorona, de limpar casa, lavar vasilhas, cozinhar... E João Tunegas de comer coisa velha- resolveram pôr um fim nessa história. Combinaram de enganar a “coroa” e levar as jóias que ela tinha. E assim se fez. Enquanto a velha tirava seu sono da tarde, eles saquearam a casa, limparam: anéis, colares, até o dente de ouro da dentadura da vovó. Ligaram o gás e incendiaram a casa com a dona dentro.

Pegaram o “busão”, voltaram para a casa, onde encontraram seu pai caído na calçada e a madrasta com o vizinho, que pegava a galinha pra comer.

Agora, com as jóias e todos os pertences que roubaram não tinham mais com o quê se preocupar, a não ser com a polícia. Mas isso eles tiravam de letra:

- “João tu negas?”

- “Sim. É mentira, eu não fiz nada”.