Mãe com filho doente

O ônibus ultrapassou várias lojinhas com as janelas entreabertas por causa do sol. Em frente ao coqueiro subiu a mulher com a criança. Sustentou alguns solavancos antes de poder se sentar atendendo a um gesto de cordialidade. Um cego se levantou e cedeu o lugar a eles. Procurava uma moradora de Cascavel, número sessenta e três. Enfermeira. O motorista, cearense, avisou com sotaque peculiar de que ainda estavam longe. Calculei três estações: Benfica, Angelim, Colorado. O veículo dobraria pelo sítio dos Menezes, Sete Estrelas e pronto.

Bem na voltinha da lagoa o ônibus estacionou. Houve um novo lamento de mãe com o filho enfermo nos braços.

Restava prosseguir em silêncio refreando a expressão de perplexidade esvaziada pela imposição do trajeto. A ordem dentro do veículo era prosseguir até o destino final. A paisagem esplêndida movimentava-se à gasolina como no prisma dos sonhos dos cansados.

Houvem uma parada obrigatória. De volta sentou-se ao meu lado um homem chamado Cabral. Foi dizendo: ah! Gostaria que tivesse visto, apontando para a janela em movimento, como se ocorresse algo de extra-sensorial. No fundo todos buscavam fugir do lamento daquela mãe com o filho doente. Por ser Cabral o homem criava solução inédita, de cunho verbal, para dissuadir o lamento. Dia dezesseis até o dezoito são desfavoráveis para aquisição de varicela. A febre devorava a criancinha nos braços daquela mãe... Reunia santos, citações e simpatias. Tudo o que fosse para encontrar uma enfermeira, habitante da Rua Cascavel.

Tudo resulta em destino certo. Apenas Cabral pulou de um assunto canoro para novas razões que se dá a cada tipo de febre. Incluindo a incomum incapacidade das crianças para fugir ao sol indo parar dentro de sombra que fosse de pitangueira. O movimento rodoviário intenso devorava algumas palavras do homem. A criancinha lamuriava um gemidinho curto, desolador. O sol nos faz correr para dentro das sombras, estava certo, disse também o cobrador, presente na tentativa de amabilidade que se estabeleceu. No verão há muitos casos de urticária. (Temeu secretamente que a mulher não dispusesse de dinheiro para estar dentro do ônibus). Para concluir emendou uma tirada sardônica: haverá urticária em todos os continentes de uma só vez. Urticária das passarelas da moda até os eletrodomésticos... Ninguém riu.

O ônibus estacionou em Teobaldo da Conceição e a mulher com criança desceu até a enfermeira que na verdade morava perto dali em Macau.

Pulou com a criança para fora do ônibus meio fora de si.

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