Bolo de abacaxi no tempo do Natal

Poucas pessoas têm tanto brilho no olhar como a minha tia Norma. É a minha madrinha e que gosta muito de ser chamada assim. Isso porque se dedicou a todos os afilhados como se ela fosse mesmo uma segunda mãe. Como tantas vezes falei, a melhor madrinha do mundo! A minha madrinha sempre foi uma mulher apaixonada pela vida, pela beleza, pelas coisas da natureza. Sempre esteve presente em todos os lugares e chama a todos de ”filho”. E conversa muito, mesmo com qualquer estranho sempre tem uma boa prosa. Minha adorável tia Norma! Como torce quando o Brasil joga! Sabe de cor vários hinos e pediu para que o meu filho escrevesse para ela o hino do Palmeiras. Como é apaixonada pela boa literatura e pela boa mesa e tem prazer em conversar sobre esses assuntos! Sempre apaixonada pela arte de cozinhar, não tem nada igual aos brigadeiros feitos pela tia Norma! Durinhos e macios ao mesmo tempo, numa redondez perfeita. E ela sempre teve um imenso prazer em dividir. Quantas vezes a minha família e eu fomos à sua casa ... e dá-lhe a dividir bolo de chocolate, coisas deliciosas e até siri, uma vez, ela mandou para o meu irmão. A tia dos presentes e do estar presente. Quando eu me casei, fez questão de me presentear com um fogão, todo o chá de cozinha e mais um caderno de receitas. Até jogo completo de lençóis ela me deu! Mas na minha última viagem a São Paulo ela resolveu fazer para mim um bolo de abacaxi. Eu já havia escrito sobre essa maravilha em outra ocasião. Era o mesmo que ela fazia quando do aniversário dos seus dois filhos tempos atrás. Só que ela tem estado cansada, mais envelhecida, aborrecida com algumas coisas, mas se levantou cedo, bem cedo naquele dezembro de 2009 para fazer para mim o seu tradicional bolo, coberto com creme e cubos pequenos de abacaxi. Eu, hospedada na casa da minha sogra, no bairro Vila Sônia. Ela, no Bosque da Saúde, bairros bem distantes daquela megalópole sem fim. Era sábado. Antes meu marido, meu filho e eu inventamos de fazer a compra de uma nova televisão no Carrefour e demorou muito para sermos atendidos. Aproveitei e comprei para a minha tia uma pizza grande, de mussarela, e fomos ao seu encontro buscar o bolo de abacaxi. Estava maravilhoso, retangular, perfumado, feito com o maior amor do mundo! E muitas fotos no momento da entrega! Foto da tia com o bolo, eu ao seu lado e o bolo no meio, o bolo sozinho, de cima, de lado, de todos os ângulos. O mesmo me foi entregue sobre uma bandeja dos anos 50, do tempo do casamento dos meus tios. Bandeja azul, que hoje serve de base para algumas louças provenientes da China, herança da minha mãe, de uma China do tempo do Mao Tse Tung (que agora inventaram de escrever Mao Zedong). E o bolo foi levado para a nossa casa com o máximo de cuidado, num verdadeiro ritual gastronômico e afetivo. Um bolo que tem todo o gosto do eterno. Coisas de uma história que insiste em permanecer no meu coração como uma herança das mais benditas e que terá que ser contada muitas vezes e a experiência repetida para que as próximas gerações melhor possam entender o que dá significado à existência: amor, amizade, companheirismo, partilha, sabedoria e bolo de abacaxi da tia Norma.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 18/06/2010
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