O que há por trás das imagens?

“Senhor:

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer.”

Começo o relato de meu “descobrimento” com uma citação da “Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal”, dado o “achamento” do que, hoje, chamamos de Brasil. Meu “descobrimento” se passa 510 anos depois – num historicamente desimportante, dia 6 de maio.

Levado ao Cinesesc pela vontade de assistir ao filme “O Desafio de Jean de LaFontaine”, fui divinamente informado de que, quase no mesmo horário do filme, aconteceria um evento com o diretor de arte Adrian Cooper na série “Cinencontros”. Quem? Adrian Cooper? Direção de Arte? Súbita, a curiosidade por horizontes novos fez-me decidir postergar o filme e assistir o encontro.

Direção de arte para mim – creio que para muitos outros também – era mais um dado que passa despercebido nos créditos dos filmes. Afinal o que exatamente é essa tal “Direção de Arte”? Adrian começou exatamente por ai: fazer-nos entender o que é isso que mal conhecemos, mas que com certeza não nos passa despercebido nos filmes. Genericamente, podemos pensar a direção de arte como aquilo que cuida de todos os aspectos das imagens que aparecem nos filmes. Vejamos: cenário, figurino, cores, enfim, a construção e conceitualização de todas as imagens que aparecem num filme.

Então, Adrian Cooper – diretor de arte de filmes como: “Desmundo”, Uma vida em segredo”, “O Judeu”, “A Marvada Carne” e outros – é o responsável pela idealização de tudo o que vemos de imagem nesses filmes citados agorinha acima? Sim, mas junto dele há a uma equipe de, muitas vezes, mais de 200 pessoas. (Vale lembrar que a arte cinematográfica é formada de cinemática e fotografia. Ou seja, para dar movimento e definição às imagens – chamemos de estáticas – concebidas pelo diretor de arte, é necessário muito outros trabalhos como a direção de fotografia, direção de atores e, logicamente, a direção geral).

Releio o que escrevi até agora e percebo que - assim como Pero Vaz de Caminha - dado a descoberta maravilhante, não sou capaz de explicar o que é direção de arte. Talvez a proximidade da descoberta e o desconhecimento sobre o vastíssimo achado, impingiam-me uma atitude: contar uma anedota sobre a importância da direção de arte. Creio que alguém já dizia que todo mito, em si, é esclarecimento.

No filme “O Judeu”, co-produção Brasil e Portugal, quando as filmagens estavam apenas pela metade, a verba acabou. Quando eles conseguiram verba para retomar as filmagens – 7 anos depois -, além de o cenário, onde o filme havia sido rodado, estar totalmente modificado, 5 dos atores morreram, 2 deles estavam entre os personagens principais. Para acabar o filme tiveram muito trabalho de reconstrução, e tiveram, também, que contratar dublês e filmar cenas com os personagens principais de costas. O que segundo Adrian deixou o filme “manco” ou “com buracos”, mas, ainda assim, muito interessante.