Viagens pelo futuro, já passado
 
     O texto a seguir, pode parecer muito ingênuo, alias, ele é realmente extremamente simples e direto. Ele nasceu para ser uma letra de um rock progressivo que imaginava um dia terminar.


     Este texto pode não valer absolutamente nada como literatura, pode nada valer também como letra de música, pode também não valer absolutamente nada como nada, mas para mim, tem um enorme valor. Foi o primeiro texto formal que compus, nos idos de 1978. Ele reflete, de alguma forma, uma guerrilha mental por que passava. 

     Imaginava um mundo cientificamente perfeito, como se o cientificismo fosse capaz de ditar verdades morais, ou de nos fazer encontrar a felicidade e nos integrar com nossas forças mentais, nossas fraquezas humanas, nossos sentimentos em evolução, e ao mesmo tempo em eterna crise existencial.

 
     Crise esta que me assolou naquela época e que consegui superar com muita atenção de uma pessoa, um orientador, a quem eu serei eternamente grato, Irio Dutra da Silva, que como orientador do Centro Espiritualista Jesus no Himalaia, em Niterói, teve a paciência e a dignidade de me dar liberdade mental, e me encaminhado pelo mundo dos estudos. Naquela época eu era um espiritualista cristão. 

     Tenho muito orgulho de minha vida passada (vida atual, vivida nos anos passados, deixemos bem claro, não falo de vidas passadas, que não acredito), e por isso não preciso omitir nada. 

     Minha briga interna se dividia no AMOR a Ciência, ainda muito incipiente em mim, aliado a total incapacidade de aceitar quaisquer dogmas ou rituais como princípio, e na impressão de que eu deveria ser perfeito (o que é por si só impossível). Acreditava que a ciência levada ao último grau poderia nos fazer viver em um mundo frio e insosso. 

     Hoje eu entendo que o cientificismo, quando aceito como única filosofia de vida, pode nos levar a sermos perversos tecnicistas.

     A vida é muito mais do que ciência, ela é moral, social, e humana.
     Em momento nenhum estou abrindo mão da verdadeira ciência, ou de suas verdades. Estou apenas dizendo que, sem abdicar de nenhuma verdade científica, necessitamos encontrar nossa ética, nossa verdadeira humanidade, nossa condição social, alem de aflorar em nosso espirito mental o mais puro amor.
     Assim encontraremos o ponto equilibrante para sabermos dignificar a vida, amando a natureza, e aflorando nossa humanidade, sempre lastreada em verdades já encontradas, e na perpétua busca e reciclagem das verdades cientificas. 

     Por isso eu hoje, em geral, não gosto dos que se dizem cem por cento uma única linha filosófica. Eu, pelo menos, tenho muitas. Não que elas se oponham, ou que eu seja elas todas o tempo todo, ou mesmo que eu consiga ser cada uma delas em sua totalidade. Apenas desejo comentar que me movimento, mentalmente, por elas, conforme o momento e a necessidade. 

 
     Posto isto, costumo me posicionar como materialista (no fundo é onde melhor me encontro comigo mesmo), com um Humanismo secular definido, bons toques céticos, racionalista, com um misto equilibrado de epicurismo e estoicismo, com maiores tendências para os epicuristas, e é logico que com algumas demãos de cientificismo, naturalismo e fisicalismo alem de ser ateu. Amante profundo da vida, em todas as suas vertentes, busco loucamente encontrar o verdadeiro conhecimento e a pura verdade.

     O texto demonstra, na época, parte desta situação. Talvez um mundo cientificamente perfeito nos levasse a sermos robôs vivos.

     Segue agora o texto escrito em 1978, sem nenhum ajuste. Este é o meu texto de número 1.

Viagens aéreas
Computador
Só isso não basta
Preciso de AMOR.

No ano 2000
Só vai haver
Homens parados
Esperando morrer.

Se eu lá chegar 
Vou querer ver
Tudo parar 
E ninguém morrer.

Crianças nascendo 
De incubadeira
Homens morrendo
De brincadeira.

Pássaros presos
Carros voando
E neste mundo
Ninguém vai andando.

Se eu lá chegar 
Vou querer ver
Tudo parar 
E ninguém morrer.

 
Alguém vai cortar 
Um fio elétrico
Só vai sobrar
Um planeta estérico.

Aí então
Vai recomeçar
A vida de novo
Vai tudo alegrar.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 22/06/2010
Código do texto: T2333945
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