O homem e sua dor.

Já eram 8 da manhã e a chuva não tinha resolvido ir embora, resolvi sair de casa assim mesmo, ainda que minhas calças se molhassem a cada vento mais forte que soprava sobre mim um banho gratuito e meus tênis se enchessem d'água a cada poça.

Estive andando um tempo bom, como todos os dias, sem saber o que se passava na vida das pessoas que passavam por mim, de certo, foi esse costume que se passou de geração em geração e me fez vendar os olhos, tapar os ouvidos, e trancar meu coração de uma forma que todas as pessoas somente faziam parte da rotina.

No meio daquela praça que todo mundo passa também, passei perto de uma estátua, e me pareceu que ela balbuciou algo, pensei estar louco, ou o vento agora já me soprava outras coisas mais, por inquietação da minhas pernas, ou da minha cabeça, resolvi fazer uma conversão e voltar pelo mesmo caminho só pra poder "verificar" o som, chegando aquela estátua, ensopada, não sabia se dos olhos dela saíam lágrimas ou escorria a chuva, mas aproveitando a distração de todos aqueles que andavam feito robôs, ou daqueles programados para dar o bom dia de sempre, o oi, o "alô quem fala?" de sempre, disse para a estátua, tem alguem aí?

Mesmo parecendo idiota, ou louco o suficiente, me parece que ninguém percebeu, mas eu percebi que aquela estátua tinha se mexido, então perguntei:

Ei, você é....é humana?

Uma voz doce, rouca responde de dentro de não mais uma estátua, mas de uma jovem sentada naquela chuva, a tanto tempo, com a boca entre aberta, os lábios esbranquiçados: Se afaste, pode ser que eu aprenda a te amar!

Perguntei que expressão era aquela.

Ela me disse que se me amasse me perderia um dia e sofreria, e não poderia mais me ver.

Perguntei da família dela, onde estava?

Ela me disse que fugiu de casa, a dor da saudade ainda existia, mas não os teria por tanto tempo, e resolveu de uma vez se livrar da dor.

Perguntei dos amigos.

E ela me disse que não tinha amigos, se preocupou demais em ser alguem na vida e acabou se formando e morando só , longe de todos.

Perguntei porque estava ali parada.

Ela me disse que poderia morrer fora dali, era perigoso, alguem podia roubá-la, ela foi ensinada a ser assim.

Aquela estátua viva, é como muito de nós hoje, talvez consigamos andar, falar, até mesmo sorrir, mas o medo de viver faz com que sejamos assim, frios, na esperança de que algo venha até nós e nos mude, nos faça viver.

É preciso acordar se levantar, trabalhar, comer,dormir, dançar, sei lá conjugar o que tiver de ser conjugado, mas nunca podemos deixa de viver, por medo, por fuga, por rancor, tem gente deixando amizades por rancor, tem gente não amando por medo de perder, tem gente parado o tempo todo numa chuva de sentimentos ruins, pela simples falta de coragem de dizer:

Hoje é o meu dia e hoje vou vivê-lo.

E que seja assim, o dia de hoje, foi feito para você ser a mudança que quer ter.

Gabriel Antunes Ferreira
Enviado por Gabriel Antunes Ferreira em 22/06/2010
Reeditado em 22/06/2010
Código do texto: T2334802
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