Doce letargia.

No lusco fusco do primeiro dia de inverno, o silêncio só foi quebrado pela chuva que descia em cascata dos telhados e se espalhava pelo chão de ardósia, produzindo som inspirador de profunda paz, tão necessária a esta cidade onde o ruído parece não ter fim.

Ao amanhecer, raras pessoas se aventuram a sair de casa e as janelas se mantiveram semicerradas o dia inteiro.

Desde que a friagem começou, o silêncio se instalou como uma prece - o povo reverencia, com alívio, a temperatura amena, após quatro dias de ventos quentes e hostis.

Até o sol parece descansar por detrás das nuvens cinzentas.

Às vezes, o cântico lamentoso de um pássaro se incorpora ao som monótono da chuva e, o dia segue preguiçoso.

Espio pela vidraça e através dos pinheiros observo a umidade intensa.

A noite chega envolta em cortina de espessos chuviscos.

A massa cinzenta de nuvens que tolda o céu promete permanecer por dias.

Se a chuva não ceder em dois ou três dias, uma das vizinhas certamente oferecerá ovos à Santa Clara, que costuma responder trazendo sol de volta.

Enquanto isso não acontece, é bem vinda a letargia, que mantém as pessoas mais calmas e nos convida a introspecção.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 22/06/2010
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