Não havia luar naquela noite.

Não havia luar naquela noite.

O vento frio entrava por todas as frestas do barracão de paredes e cobertura de zinco.

Apesar da forração interna de papelão que o pai improvisara, o vento varria o barraco e levantava poeira no chão de terra batida.

O casal e seus seis menores de 14 anos tilintavam de frio, apesar do sopão de fazer suar, servido às sete da noite.

A mãe cozinhava tudo junto numa lata grande: restos de verduras, ossos que eram vendidos como comida para cães e pães amanhecidos. Além do sal, não se sabe que mais temperos ela usava. O fato é que quem provasse a sua sopa, haveria de lamber os beiços. Era com aquele caldo grosso que Dona Ivonete alimentava a sua família. Eram todos saudáveis.

Após a sopa, vinha o café ralo, a guisa de sobremesa e ninguém parecia enjoar do alimento que raramente era modificado.

Aquela noite estava fria demais.

O vento forte de dar medo, parecia querer levantar o barraco. Talvez pela posição estratégica que estava: numa esquina do morro; a tempestade de vento fosse ainda mais cruel.

O pai se levantou, e preparou uma fogueirinha no meio do barracão – único cômodo da família.

Calculou espaço que considerou seguro, atrás da cortina de pano grosso que separava o colchão onde dormia com a mulher, das redes dos meninos.

Ajeitou os blocos que serviam de fogareiro e acendeu o fogo.

Observou as crianças de rostos tranqüilos que dormiam juntinhas: duas em cada rede e sorriu satisfeito. “Como são bonitos e saudáveis os meus bichinhos!"

O vento continuava assobiando e era tanto que fazia medo aos viventes.

O pai tornou a se deitar junto a sua mulher que, com o reflexo do fogo, lhe pareceu mais bonita.

Deus sabe o quanto sonhava em lhe dar uma vida melhor!

Talvez agora que os dois meninos maiores estavam trabalhando a vida tomasse outro rumo...

Havia sido um longo dia.

Em minutos o pai também adormeceu profundamente.

Ainda não havia amanhecido quando a mulher foi acordada pelos gritos desesperados do marido.

A casa estava em chamas, quatro dos filhos mortos provavelmente por intoxicação e dois carbonizados sobre restos das redes.

_ Certamente a ventania soltou os papelões das paredes e fez muita fumaça. As crianças desmaiaram e o fogaréu destruiu tudo que estava em volta.

Vocês também devem ter desmaiado, mas depois voltaram a si.

Foi o que informou o Bombeiro aos pais desolado.

Ainda se houve ao longe a sirene da Ambulância que levou o pai para o Hospital Psiquiátrico, e a mãe em absoluto estado catatônico.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 24/06/2010
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