Copa do Mundo – Diário de um torcedor (X). De seleções, notáveis decepções e, origens do futebol...

Copa do Mundo – Diário de um torcedor (X). De seleções, notáveis decepções e, origens do futebol...

(Nesta crônica da "Copa-Diário", informo que, embora o texto tenha há ver com o assunto das outras crônicas, falo de acontecimentos da Copa do Mundo só no começo. Depois, tento uma reflexão sobre o futebol, suas orígens e razão da popularidade. Por isso... Mas, amanhã, dia de jogo - e, quem sabe, vitória - do Brasil, volto ao programa).

Amanhã, é dia de mais um jogo da seleção brasileira contra a seleção portuguesa. Nossa seleção já tem a liderança do grupo garantida. Mas, Portugal goleou equipe da Coreia do Norte, depois de passar um perrengue com a Costa do Marfim, no jogo de estréia, que terminou empatado em 0 X 0, o que não a recomenda tanto, assim.

Umas das características da Copa do Mundo da África do Sul até agora, tem sido a persistência da baixa qualidade dos espetáculos e do futebol apresentado e, por outro lado, a paulatina evolução de algumas equipes, na medida em que a a disputa avança - Brasil, Portugal, Japão e Inglaterra, incluídos.

Nessa altura da disputa, vimos que:

- a Alemanha tem um time apenas um time mediano;

- a Itália não conseguiu honrar seu passado brilhante;

- a seleção multicultural francesa foi até o continente africano, ao que parece, apenas para promover um festival de baixarias;

- que as seleções americanas (EUA incluído!), avançaram em bloco em direção à fase seguinte – o que já torna plausível uma final entre seleções do continente;

- a equipe do técnico “Zangado” segue tranquila e sem ser exigida em seu futebol (o que pode levar a riscos e alguma surpresa);

- a seleção da argentina segue impassível em sua campanha, a despeito de disputar os holofotes com seu vaidoso técnico;

- o continente asiático festeja o fato de ter dois representantes na fase seguinte, Coréia e Japão - este, que sob o comando do atacante Honda, impôs um surpreendente 3 x 1, na respeitada seleção da Dinamarca;

-que, o continente africano, por sua vez, viu a serelepe seleção de Gana manter a esperança e, seguir como seu representantede seus povos, na Copa do Mundo; e, por fim que

- não, os torcedores não abrem mão da chatura juvenil das "vuvuzelas", nos estádios.

De qualquer forma, o torcedor que começou a assistir à Copa com o entusiasmo esperado, está por assim dizer, meio "gelado" com o evento da Copa, diante dos jogos ruins e dos placares pífios.

Mas, interessante: acabo de ler na Folha on Line que torcedores americanos já "matam" serviço para assistir a jogos da Copa do Mundo. Todavia, ainda tentam entender as regras do futebol. E, na televisão, assisti a um apresentador fazendo referência à manifestação de alguém da “direita” americana, sobre a “mexicanização” e a degradação do gosto dos americanos pelos esportes, com a expansão da popularidade do futebol no país.

Depois de fazer reparos quanto ao conceito de “direita”, que os americanos não conhecem e, que provavelmente o tal apresentador se referia à opinião de alguém identificado com os “conservadores” do país (dos quais se pode dizer que têm muito do que reclamar e protestar, em termos de costumes, política e, tudo o mais, nos tempos que correm - e sei que me entendem...), gostaria de aproveitar o gancho para dizer de um dos motivos da popularidade do futebol e, da consequente possibilidade de sua popularização extrema entre os americanos, a médio prazo...

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(A partir daqui, começo a expor uma tese sobre a popularidade do futebol...)

Às 20h: 15mim. O futebol parece ter muitas e remotas origens diferentes, que apontam para o território chinês e, europeu, por exemplo.

Existe uma lenda em torno do nascimento do futebol na Roma antiga, nos acampamentos de batalhas das legiões romanas, que se utilizariam da cabeça dos inimigos derrotados, para promover uma espécie de "rachão" entre a soldadesca, com duas equipes tentando levar o membro decepado até uma linha de fundo, estabelecida no campo oponente.

Tento imaginar a cena e não a acho possível. À parte o horror explícito do “objeto” utilizado, é sabido que somente a elite das legiões romanas era dado o luxo de calçar aquelas sandálias de couro crú que vemos nos filmes, pois a maioria dos guerreiros, marchava descalça e à pé e, que tal modalidade de recreação era destinada à ralé, maioria da gente recrutada pelo exército.

Imaginar aquela gente chutando uma cabeça humana, correndo o risco de ver os pés quebrados ou contundido e, a provocação de baixas em acampamento – e não, nas batalhas, não parece razoável. Vai daí, que talvez se utilizassem do escalpo completo do indivíduo, preenchido com capim, ou algo assim, o que tornaria viável a prática do "esportiva", pois preservaria o lado grotesco, horroroso e torpe da disputa – isto é, o de cultivar o ódio ao inimigo e infligir-lhe humilhação e medo...

(O leitor talvez esteja assustado com o que escrevi linhas acima. Mas, pelo que considere o seguinte: as guerras do passado eram mesmo um espetáculo de horror premeditado).

Um dia, imagino, quando o Império romano definhou e as guerras foram raraendo e modificando sua natureza, no interior do território europeu, aquela diversão burlesca já tinha sofrido transformações, tornando-se uma espécie de tradição, onde o “objeto” original de disputa foi substituído por uma esfera de couro e, com algumas mudanças a mais, chegou até o nosso tempo, para tornar-se o esporte mais popular do planeta.

Na altura da década de 90 do século passado, a popularidade do futebol chegou a tal ponto que, segundo informações da Federação Internacional de Futebol - FIFA, sua estrutura e cadeia de indústria e serviços associada, é a maior geradora de vagas de emprego, em escala planetária e, sua popularidade não tem feito mais do que crescer, avançando por todos os continentes e, nações.

Diante disso, pergunto: o que há de tão interessante ou diferente no futebol? Qual é a razão pela qual, gostamos deste esporte que inverte uma regra, obrigando à utilização dos pés, em vez da mãos, quando um indivíduo normal utiliza os pés apenas para caminhar e as mãos para realizar todas as suas tarefas e manipular e construir objetos?

Eu tenho uma tese a respeito. E quero explorá-la, nos tópicos seguintes. Então, já sabem: “continua...”

Tempos atrás, assisti a um programa da National Geografic, em que um antropólogo e apresentador, examinado achados recentes e antigos de arte grega, relatava que, duas estátuas encontradas por um mergulhador no mar Jônico, demonstravam que os artistas gregos clássicos haviam chegado a um nível espantoso de realismo em suas esculturas e, que, no entanto, tal realismo não perdurou por muito muito tempo, pois as gerações de artistas posteriores preferiram se afastar de tal padrão, produzir peças comm uma estética menos "real", mais ligado à ligado à intenção de ressaltar determinadas qualidades ou características do indivíduo, nas esculturas.

E ele seguiu afirmando que, no Renascimento, aconteceu algo parecido. Depois do apogeu da arte renascentista, que, em termos de imagética, proporções, luz, etc, procurava de aproximar da realidade, as gerações e correntes artistas seguintes fugiram de tal padrão de interpretação da realidade, preferindo interpretá-la, em vez de tentar reproduzí-la - o que ficou bastante evidente a partir do impressionismo.

E, usando como exemplo a imagem da mais antiga escultura já elaborada pelo homem, batizada de Vênus de Willendorf, concluiu afirmando que, os artistas e as pessoas em geral, que vivem dentro do que é definido por realidade e natureza e tendo processos já consagrados de experimentaçao e conhecimento da realidade, preferem uma arte que, em vez de imitação, a interprete, ou que indique ou descubra nela, algo de inesperado, de diferente, de insuspeito ou que não tenha sido percebido pelo olhar do homem comum.

Neste ponto, quero me utilizar de tal tese, para tentar demonstrar a minha, em relação à adesão das mais diferentes sociedades e culturas ao futebol e, sua rápida e impressionante popularização, pelo mundo afora, à parte a a estrutura organizacional que envolve e ainda, a sua ligação com o mundo do consumo, através das indústrias do esporte, turismo e entretenimento, cuja massificação através da publicidade é de eficiência inquestionável.

Havendo tantos e diferentes modalidades esportivas postas em práticas, pergunto porque o futebol tem tanta proeminência sobre as demais modalidades, quando falamos de esportes coletivos? E porque ele desperta tanto interesse e paixões tão avassaladoras? Ora, é sabido que um indivíduo é capaz de mudar de religião, nação, amorese até sexo, mas não troca sua paixão pelo time de futebol que escolheu para "torcer" ou, melhor, cultuar, ao longo de sua vida...

Em primeiro lugar, como já afirmei anteriormente, a aproximação e experimentação do futebol, ao contrário de quase todos os outros esportes coletivos, exige muito pouco, em termos de estrutura e, participação. Basta uma bola de meia e alguns amigos, para se dividir em dois grupos diferentes e, numa área exígua - o quintal da casa ou a rua em que moram ou lote baldio, por exemplo, servem para viver, sentir e aprimorar a experiência da prática do futebol. E isso, em certa medida, faz toda a diferença.

Em segundo lugar, porque, na experiência da prática ou da assistência do futebol, acontece uma experiência bem interessante na mente de um do indivíduo: a inversão de uma regra básica sobre a forma de fazer, elaborar ou executar algo, constituida pela troca das mãos pelos pés, invertendo o modo estabelecido desde que o primeiro primata ancestral do homem desenvolveu as vistas para ver o ambiente em cores e em terceira dimensão e, desenvolveu a mão preênsil, isto é, que é capaz de segurar e manipular objetos e coisas.

Eu não sou antropólogo nem especialista em educação física e, minhas noções de psicologia são mínimas - mas, suspeito que a participação na mais simplória das modalides de futebol (o "golzinho" da porta de casa, serve de exemplo) ou o acompanhamento de uma partida de futebol, na várzea, num estádio ou, pela televisão, de alguma forma, sempre nos leva a experimentar a sensação da supressão dos movimentos das mãos, em favor da realização de um conjunto coordenado e coletivo de movimentos com os pés, para chegar ao objetivo visado, que é vencer a disputa.

Ora, os esportes coletivos mais populares dos EUA se realizam justamente com o concurso da mão, que manipula os objetos utilizados para atingir determinado alvo e, marcar pontos, como é o caso do taco e da bola, no Baseball, da bola de borracha, no Basketball e, da bola pontiaguda, no Footbaal.

No Futebol, bem ao contrário, via de regra, o uso das mãos é vetada para a maioria dos jogadores envolvidos - exceto quanto aos goleiros e quanto à cobrança de "laterais", pois a utilização do objeto utilizado para marcar os pontos, a bola, via de regra, só pode ser conduzida pelos pés, na travessia da área do campo de futebol, sendo admitidas apenas a utilização da cabeça e a área até os joelhos, para auxiliar tal condução. Mas, os braços, num campo de futebol, servem ordinariamente para auxiliar no equilíbrio dos jogadores, em seus rápidos deslocamentos, dentro do gramado.

Convenhamos: a utlização dos membros posteriores em lugar dos membros anteriores, obriga os atletas a uma operação custosa, no intuito de conduzir au bola, de um extremo a outro do campo demarcado, até atingir a meta do time oponente e, marcar o ponto, isto é, o gol, entrementer enfrentar adversários e ser obrigado a observar as regras, sob pena de ser penalisado e, suprimir da mente a possiblidade de utilizar as mãos ou braços, em qualquer circunstância (bem, estamos falando de regra - Maradonna - com dois enes, entenderam?, e Luiz Fabiano desafiaram a regra e... tiveram sucesso!).

Desde bebês, somos estimulados a usar as mãos para concretizar o mundo de possibilidades ao nosso redor, mas, no futebol, o atleta tem que abrir mão de tudo o que aprendeu nesse longo processo e usar os membros que todos usam apenas para apoiar o tronco e caminhar. Não é incrível? Um atleta de futebol, assim como os fãs de futebol, aderem, na sua paixão pelo futebol, não só à admiração por uma equipe, aptidão, talento e, técnica do jogador, capacidade de organização e exploração do campo e adversários, o êxito que resulta da conjugação de todos esses itens, mas, talvez, a continua experimentação do processo constituido pela renúncia do uso das mãos preênseis - capazes de fazer objetos, ferramentas, desenho e, executar música, em favor da utilização do conjunto pernas e pés, cujo leque de possibilidades e absurdamente menor, que só atingem a concreção e conjugação de movimento e força...

Daí, a minha impressão de que, a cada partida disputada ou assistida, em nossa mente, se repete o desafio e a simpatia de acompanhar a partida de futebol.

E creio que, por esse chamativo e diferença, o futebol, a despeito da popularidade e estrutura estabelecida em torno de outros esportes de massa, mais cedo ou mais tarde, vai ganhar um grande e apaixonado público nos EUA, posto que, também em termos de estruturas mentais, a humanidade é uma só.

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Às 21h:40min. Hj, paro por aqui. Enquanto escrevia, ouvia o estouro dos fogos de artifício, nos prédios e ruas vizinhas ao local de trabalho.

Comprei mini-pizzas e, vou passar no supermercado, para comprar cerveja, refrigerantes e, pipoca para a hora do jogo.

No ar, um ar de alegria e confiança na seleção brasileira e na vitória, a despeito da desimportância da partida contra Portugal.

Como diria o mestre Scoobidoo: "Vamos nóoooooos!" Brasil! Brasiiiiiiil!